James Watkins conduz “Não Fale o Mal” com uma abordagem meticulosa, explorando tensão psicológica e dinâmicas de manipulação dentro do suspense e crime. Embora a trama evoque familiaridade ao retratar encontros casuais que se tornam pesadelos, a construção gradual do desconforto diferencia a obra, enfatizando a vulnerabilidade humana de maneira incômoda e perturbadora.
Ben Dalton (Scoot McNairy), um homem fragilizado pela traição virtual da esposa Louise (Meagan Good), embarca com ela e a filha Agnes (Alix West Lefler) em uma viagem pela Itália, tentando reatar os laços familiares. No caminho, conhecem Paddy (James McAvoy), um viajante carismático que aparenta ser a encarnação da liberdade. Sua presença magnética e destemida cativa e inquieta ao mesmo tempo. Acompanhado por sua parceira Ciara (Aisling Franciosi) e o filho Ant (Dan Hough), um menino silencioso e enigmático, Paddy exibe um comportamento que oscila entre a hospitalidade exagerada e algo mais sombrio.
Louise, mais sensível às sutilezas da interação social, sente um desconforto crescente, enquanto Ben, buscando escape de suas frustrações, se entrega à camaradagem oferecida por Paddy. Quando convidados para passar um tempo na remota fazenda inglesa do casal, aceitam a proposta como uma tentativa de recomeço. Contudo, ao adentrarem esse espaço isolado, a atmosfera se torna insuportavelmente opressiva. Pequenos gestos e silências incômodas revelam que algo não está certo, mas a negação e a conveniência impedem uma reação imediata.
A relação entre os casais evolui para um jogo psicológico cruel. Paddy exerce um controle velado, conduzindo situações ao limite, enquanto Ant e Agnes compartilham uma cumplicidade silenciosa que esconde algo mais profundo. Louise percebe os sinais de perigo, mas Ben, tentando preservar sua masculinidade fragilizada, ignora as evidências, submetendo-se à ilusão de camaradagem. A tensão cresce exponencialmente, tornando cada interação um campo minado.
James Watkins manipula magistralmente o ritmo, conduzindo o espectador por uma espiral de impotência. A fotografia fria e a trilha sonora minimalista acentuam o desconforto, enquanto McAvoy entrega uma atuação hipnotizante, oscilando entre charme e crueldade. Dan Hough, sem precisar dizer uma palavra, transmite desespero e submissão de forma angustiante.
Inspirado no thriller dinamarquês homônimo de 2022, dirigido por Christian Tafdrup, Watkins amplifica o terror latente, transformando o desconforto em algo insuportável. “Não Fale o Mal” é um estudo implacável sobre a passividade humana diante do perigo, um thriller que não apenas assusta, mas perturba profundamente, deixando um gosto amargo sobre as consequências da conivência.
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