Um filme que explora as descobertas da infância exige uma abordagem sensível e refinada, onde a pureza e a magia do universo infantil se confrontam com a realidade cruel da vida. Em “Caminho para a Liberdade”, o diretor Tobias Wiemann adapta a obra de Rüdiger Bertram, levando o público a seguir a jornada de Rolf Kirsch, um garoto idealista que, no contexto da Segunda Guerra Mundial, se vê imerso em um universo de incertezas, perdas e desafios. A história de Rolf não é apenas a de uma criança lutando para entender o mundo, mas também a de um indivíduo que se vê forçado a amadurecer rapidamente, enquanto busca por respostas sobre o amor, a sobrevivência e a esperança. O filme se insere nesse universo de modo complexo, ao explorar os sentimentos mais profundos de um personagem que, ao mesmo tempo, é único e universal em suas vivências.
A história, embora situada durante o auge da Segunda Guerra Mundial, toca em questões atemporais, fazendo com que a jornada de Rolf ressoe com públicos de todas as épocas. Sua trajetória é uma reflexão sobre a dor da perda, a busca incessante por um propósito e a luta para preservar a inocência, mesmo quando o mundo ao seu redor desaba. A adaptação de Tobias Wiemann traz à tona reminiscências de grandes obras do cinema, como “Amarcord” de Fellini e “Fanny e Alexander” de Bergman, que abordam o amadurecimento de crianças em contextos tumultuados. Porém, o que diferencia “Caminho para a Liberdade” é a sua imersão na guerra como pano de fundo, sem nunca deixar de focar na visão esperançosa e transformadora do protagonista, que se recusa a aceitar a visão de um mundo sem futuro. O roteiro de Bertram e Juytte-Merle Böhrnsen utiliza com maestria a ideia de que a infância, embora marcada por momentos de dor, também pode ser o espaço de transformação e de desejo por um amanhã melhor.
Rolf, que perde seu pai Ludwig para o regime nazista, parte em uma jornada de autodescoberta e sobrevivência, acompanhado de Adi, seu cão que, além de ser seu fiel companheiro, se torna símbolo de lealdade e esperança. Em sua travessia pela fronteira entre a Espanha e a França, o garoto conhece Nuria, uma criança que compartilha sua dor e solidão, e com quem estabelece uma profunda ligação. Juntos, eles enfrentam os horrores da guerra, não apenas buscando sobrevivência, mas também acreditando na possibilidade de um mundo melhor. A atuação de Julius Weckauf, que interpreta Rolf, é um dos maiores trunfos do filme, pois consegue transmitir com delicadeza a fragilidade e a força de um garoto diante do caos. Sua interpretação confere à narrativa uma profundidade rara, elevando a história de “Caminho para a Liberdade” a um nível de genuína empatia com o público.
Além disso, o filme exibe uma habilidade rara de equilibrar o surrealismo e o realismo. As memórias de Rolf, entrelaçadas com suas angústias e esperanças, são tratadas com uma sensibilidade própria, que lembra o humor sombrio de “Jojo Rabbit” de Taika Waititi, porém com uma tonalidade mais sóbria e reflexiva. Em vez de se perder em temas pesados e apáticos, “Caminho para a Liberdade” consegue ser um conto de fadas amargo e tocante, repleto de lições sobre humanidade, resiliência e a eterna busca por liberdade. Por fim, o filme é uma afirmação de que, mesmo nas piores circunstâncias, sempre há espaço para a esperança, como nos ensina Rolf, um garoto que, apesar de tudo, nunca deixa de acreditar na possibilidade de um amanhã melhor.
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