Gravado em uma prisão de verdade e com um elenco de detentos e ex-detentos, filme que fez Colman Domingo ser indicado ao Oscar está na Netflix Divulgação / Black Bear

Gravado em uma prisão de verdade e com um elenco de detentos e ex-detentos, filme que fez Colman Domingo ser indicado ao Oscar está na Netflix

Com cinco indicações ao Critics Choice Awards, incluindo Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator para Colman Domingo, “Sing Sing” consolidou sua relevância no circuito de premiações e entrou na disputa do Globo de Ouro de 2025. Com chances reais de figurar na lista do Oscar, o longa se destaca não apenas pelo rigor narrativo, mas pela ousadia de sua concepção: um elenco predominantemente formado por detentos da penitenciária de Sing Sing, em Nova York. Essa escolha, além de elevar a autenticidade da obra, reforça um impacto social significativo, especialmente ao garantir remuneração igualitária para todos os envolvidos na produção, independentemente de sua função.

A ideia de um filme ambientado no sistema prisional americano não é inédita, mas “Sing Sing” reconfigura essa abordagem ao priorizar um realismo visceral e uma construção coletiva que desafia os limites entre ficção e realidade. A decisão de escalar detentos reais para interpretar suas próprias vivências imprime à narrativa uma carga emocional que extrapola a tela, criando uma experiência cinematográfica singular e profundamente humana.

A arte sempre foi um veículo poderoso para acessar as camadas mais profundas da experiência humana. No entanto, poucos esperariam encontrá-la florescendo dentro de uma penitenciária. Em uma visita a uma prisão de segurança máxima, tive a oportunidade de testemunhar uma simulação de rebelião. O impacto daquela experiência foi avassalador: a atmosfera sufocante, o peso da privação de liberdade e a tensão palpável tornavam quase impossível ignorar a brutalidade daquele ambiente. Traduzir esse tipo de sensação para o cinema exige mais do que uma boa direção — requer vivências autênticas, algo que “Sing Sing” entrega com maestria.

O encarceramento reduz os indivíduos à sua pior versão. Não apenas pelos crimes que cometeram, mas pela desconexão total com qualquer resquício de sensibilidade, afeto ou beleza. A sobrevivência se sobrepõe a qualquer expressão de humanidade. Nesse contexto hostil, “Sing Sing” encontra um ponto de fuga: a arte como possibilidade de reconstrução. A trama se desenrola a partir da iniciativa de Divine G (Colman Domingo), um detento que, antes de ser condenado por homicídio, trilhava um caminho promissor no teatro. Para ele, o palco é mais do que uma forma de entretenimento: é uma chance de reabilitação, uma ferramenta para resgatar a identidade de homens que, fora dali, foram reduzidos a estatísticas.

A princípio, o grupo de detentos que se envolve no programa teatral carrega a rigidez imposta pela rotina da prisão. São homens marcados por erros, vícios e relações fragmentadas, que encaram a proposta com ceticismo. No entanto, conforme os ensaios avançam, algo começa a se transformar. O teatro se torna um espelho para suas dores e um refúgio onde, pela primeira vez em anos, podem expressar algo além da violência e da resistência. A progressão emocional dos personagens não é romantizada; ao contrário, é construída com a crueza de quem carrega fardos pesados, mas ainda tem algo a dizer.

Mais do que um filme sobre o sistema prisional, “Sing Sing” é uma meditação sobre a resiliência humana. Sua mensagem ressoa além das grades, desafiando a visão convencional sobre culpa, castigo e redenção. O longa nos força a encarar uma verdade incômoda: o que fazemos com aqueles que erram? Se a punição for o único caminho, o que isso diz sobre nós enquanto sociedade? Com atuações magnéticas e um roteiro que equilibra dor e esperança, a obra nos convida a refletir sobre transformação e dignidade, provando que, mesmo nos cenários mais áridos, a arte ainda pode florescer.

Filme: Sing Sing
Diretor: Greg Kwedar
Ano: 2023
Gênero: Drama
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★