O filme que quebrou os recordes de bilheteria da A24: o sucesso que faturou 700 milhões de reais, na Max Divulgação / A24

O filme que quebrou os recordes de bilheteria da A24: o sucesso que faturou 700 milhões de reais, na Max

Primeiro blockbuster da A24 e o mais dispendioso de sua trajetória, com um orçamento de 50 milhões de dólares, “Guerra Civil”, dirigido por Alex Garland, apresenta uma distopia brutal dos Estados Unidos fragmentados por um conflito interno. No entanto, longe de uma análise política convencional, a obra se concentra no papel do jornalismo em tempos de crise, explorando as complexidades éticas e os riscos inerentes à busca incessante por notícias.

Num cenário onde a Frente Ocidental, uma facção separatista, avança sobre Washington D.C. para derrubar o governo vigente, o país se divide entre aqueles que enfrentam a realidade devastadora do conflito e os que se refugiam em áreas rurais na tentativa de preservar alguma normalidade. Em meio ao caos, um grupo de jornalistas percorre territórios hostis, arriscando a própria vida para documentar a história enquanto ela se desenrola.

Kirsten Dunst dá vida a Lee Smith, uma fotojornalista veterana, marcada pelo estresse pós-traumático após presenciar incontáveis tragédias por trás das lentes. Seu parceiro, Joel (Wagner Moura), é um repórter sul-americano cuja nacionalidade não é especificada, e ambos trabalham para a agência Reuters. A dupla parte para Washington com o objetivo de obter a primeira entrevista com o presidente em mais de um ano. A eles se juntam Sammy (Stephen McKinley Henderson), um experiente repórter remanescente do The New York Times, e Jessie (Cailee Spaeny), uma novata fascinada pelo trabalho de Lee e determinada a seguir seus passos.

A jornada, porém, é perigosa. Em meio ao conflito, jornalistas são vistos como inimigos, especialmente nos arredores da Casa Branca, onde a iminente rendição do governo às forças separatistas parece cada vez mais provável. Embora “Guerra Civil” não assuma um viés político evidente, Garland insere críticas sutis ao nacionalismo exacerbado dos Estados Unidos. Um dos momentos mais impactantes ocorre quando o grupo é abordado por um soldado (interpretado por Jesse Plemons, marido de Kirsten Dunst na vida real). 

Acompanhados por dois repórteres asiáticos, os jornalistas são interrogados sobre suas origens. Lee e Jessie, ambas brancas, afirmam ser do Colorado e Missouri, respectivamente. Quando Joel responde ser da Flórida, o soldado ironiza, insinuando que ele seja da América Central. A tensão atinge seu ápice quando o militar executa os dois profissionais asiáticos e pressiona Joel a esclarecer sua nacionalidade. A cena denuncia, de forma crua, a xenofobia e o racismo enraizados no fervor patriótico de certos setores.

Visualmente, o filme remete a clássicos do gênero, evocando a brutalidade de “Guerra ao Terror”, “Nascido para Matar” e  “Apocalypse Now”. A cinematografia impressiona pela composição realista e pela atmosfera sufocante que permeia cada cena de combate. Mas, além do espetáculo visual, “Guerra Civil” também presta homenagem a uma era do jornalismo em que repórteres iam a campo, enfrentando perigos reais para reportar a verdade, em vez de se limitarem à segurança de uma redação. A escolha do elenco reforça essa imersão: Garland vem de uma família de jornalistas, e Wagner Moura, antes de se tornar ator, chegou a se formar na área e atuar como repórter.

Com uma abordagem visceral e sem concessões, “Guerra Civil” se consolida como um thriller tenso e imersivo, que transcende a narrativa política para explorar a essência do jornalismo em tempos extremos. Um filme que, mais do que relatar um conflito fictício, reflete sobre o papel da mídia na preservação da memória e na construção da história.

Filme: Guerra Civil
Diretor: Alex Garland
Ano: 2024
Gênero: Ação/Drama/Guerra
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★