O terceiro longa-metragem dirigido por Jesse Eisenberg, “Verdadeira Dor”, lançado em 2024, chega ao Oscar 2025 com indicações nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante. Estrelado pelo próprio Eisenberg, o drama acompanha a jornada de dois primos, Dave (Jesse Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin), em uma viagem à Polônia, onde buscam conhecer o lugar em que sua avó viveu antes de emigrar para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.
A avó, sobrevivente do Holocausto, não aparece em flashbacks, mas emerge por meio das recordações dos netos. Sua imagem é a de uma mulher resiliente e determinada, que jamais se deixou definir pela tragédia. Heroína silenciosa de sua própria história, manteve uma ligação mais intensa com o sensível Benji. Antes de morrer, deixou uma herança com a condição de que os dois viajassem para sua terra natal e revisitassem suas origens.
Ao longo da viagem, as diferenças entre os primos tornam-se cada vez mais evidentes. Dave é um homem centrado, pai de família e emocionalmente reservado. Benji, por sua vez, vive sem amarras, guiado por impulsos e um carisma irresistível, que, ao mesmo tempo em que atrai, também distancia. Entre eles, paira um trauma não resolvido, cuja natureza se revela aos poucos, expondo a distância que os separa e a dor que compartilham.
A viagem se desenrola não apenas como um resgate das memórias da avó, mas como um confronto inevitável entre os dois, que precisam enfrentar não apenas suas diferenças, mas também as próprias feridas. O roteiro habilmente costura o passado e o presente, transformando as paisagens polonesas em um espaço de reflexão e reparo emocional.
A trilha sonora desempenha um papel crucial na construção da atmosfera do filme. Em momentos de maior vulnerabilidade, a música se silencia, permitindo que a carga emocional fale por si. Por outro lado, nas discussões entre os primos, os sons sobem de volume, amplificando a tensão e funcionando como um eco de suas divergências. Peças de Chopin, o renomado compositor polonês, também pontuam a narrativa, criando uma ponte sensorial entre os protagonistas e o passado de sua família.
Embora explore cenários marcados pela tragédia, como campos de concentração e monumentos dedicados à memória do Holocausto, “Verdadeira Dor” evita recorrer a fáceis sentimentalismos. Em vez disso, questiona como o sofrimento de uma geração reverbera nas seguintes, refletindo sobre a busca por identidade e sentido em meio a um legado de dor. É um filme que dialoga com a herança emocional de traumas históricos, sem abrir mão da sensibilidade e da honestidade ao tratar desse impacto.
★★★★★★★★★★