Pouco envolvente e repleto de pretensão não justificada, “Paralisia”, suspense roteirizado por Rowan Joffe e dirigido por Nour Wazzi, tenta arquitetar uma relação intrincada entre quatro personagens, culminando em uma tragédia previsível. No centro da história está Katherine (Famke Janssen), uma ex-atriz cuja vida ficou confinada a um leito hospitalar após ser diagnosticada com a síndrome do encarceramento. Embora incapaz de movimentar o corpo, sua mente permanece ativa, e seu único canal de comunicação é o movimento dos olhos, usado para interagir com sua enfermeira, Mackenzie (Anna Friel).
Esse tipo de interação não é uma licença poética do roteiro, mas uma realidade documentada em casos notáveis como os de Tracey Okines e Jean-Dominique Bauby. Ambos relataram suas experiências através de livros escritos com a ajuda de um interlocutor que transcrevia palavras a partir de piscadelas. É justamente por meio dessas mensagens codificadas que Katherine revela um suposto atentado contra sua vida. A enfermeira, ao se debruçar sobre as declarações de sua paciente, nos conduz por uma série de flashbacks que transportam a narrativa para um passado nebuloso.
Anos antes, Katherine vivia em um casarão gótico em Saint Albans, a poucos quilômetros de Londres. Isolada em um ambiente frío e opressivo, ela cuidava de seu enteado, Jamie (Finn Cole), um jovem fragilizado por problemas de saúde. Com a morte do pai do menino, tornou-se sua única responsável. Contudo, a chegada de Lina (Rose Williams), filha de uma amiga de infância falecida, muda a dinâmica da casa. Lina e Jamie, que têm idades semelhantes, criam um vínculo intenso baseado em promessas de proteção e companheirismo. O tempo passa, e essa relação evolui para um casamento. No entanto, a união não representa um compromisso romântico equilibrado, mas sim um fardo para Lina, que se vê aprisionada em funções de cuidadora, sem espaço para experiências próprias.
O medo do abandono faz de Jamie um manipulador implacável. Sempre que Lina ensaia qualquer distanciamento, crises de saúde e ameaças emocionais a puxam de volta. Paralelamente, sua relação com Katherine se deteriora. Para a ex-atriz, Lina representa um perigo iminente: uma jovem determinada que pode tomar sua casa, seu enteado e, em última instância, sua própria existência. O ressentimento cresce ainda mais quando Katherine percebe a aproximação entre Lina e o médico de Jamie, Lawrence (Alex Hassell).
O enredo avança entre traições, suspeitas e jogos de poder, moldando uma rede de relações conturbadas. Mas, em vez de gerar um suspense arrebatador, a narrativa se perde em dilemas mal desenvolvidos. Os personagens transitam entre a superficialidade e a incoerência, tornando difícil discernir suas verdadeiras motivações. Se a intenção era manter o público em um estado constante de dúvida, o efeito alcançado é bem diferente: uma sucessão de eventos que carecem de impacto genuíno. Como entretenimento, “Paralisia” cumpre sua função de forma tímida, mas está longe de oferecer uma experiência memorável.
★★★★★★★★★★