Lançado no Brasil em março de 2020, “Magnatas do Crime” marca o retorno triunfal de Guy Ritchie à sua essência cinematográfica, reafirmando seu domínio no subgênero dos filmes de gângster. O cineasta britânico, renomado por obras como “Snatch – Porcos e Diamantes”, “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e “Rock’n’Rolla”, entrega aqui uma narrativa ágil, povoada por personagens carismáticos e diálogos afiados, consolidando sua assinatura visual e narrativa.
Desta vez, Ritchie dosa com precisão seus artifícios estilísticos, evitando excessos que, em alguns de seus trabalhos, comprometeram a fluidez da trama. Em “Magnatas do Crime”, sua abordagem equilibra sofisticação e diversão, sustentada por um elenco afiado que potencializa o material. Matthew McConaughey lidera o grupo interpretando Michael Pearson, um magnata do tráfico de maconha no Reino Unido, cuja aparente morte abre a narrativa. Ao seu lado, Hugh Grant surpreende no papel de Fletcher, um detetive particular inescrupuloso, enquanto Charlie Hunnam e Colin Farrell adicionam camadas intrigantes à história.
A metalinguagem é um dos elementos-chave do roteiro, conduzido por Fletcher, que narra os eventos através de uma tentativa de chantagem contra Ray (Charlie Hunnam), braço direito de Pearson. Esse formato narrativo, que brinca com a própria construção da história, insere o espectador em um jogo entre ficção e realidade, desafiando-o a questionar o que de fato aconteceu. A estrutura labiríntica da trama poderia facilmente tornar-se confusa, mas Ritchie mantém o controle, entrelaçando os acontecimentos com fluidez e ritmo crescente.
O humor sofisticado e as reviravoltas imprevisíveis conferem à obra um charme distinto. Embora o filme exija atenção ao longo de sua execução, cada detalhe se justifica na composição de um enredo inteligente e envolvente. O início, que sugere um desfecho já estabelecido, logo se revela apenas a ponta do iceberg, conduzindo o público a uma sucessão de eventos que desafiam as expectativas.
O trabalho de atuação é um dos grandes trunfos do filme. McConaughey encarna um protagonista elegante e astuto, enquanto Grant se diverte ao interpretar um personagem manipulador, explorando sua veia cômica de maneira inusitada. Já Farrell, no papel de um treinador de boxe peculiar, adiciona um toque de excentricidade que complementa a dinâmica geral. O elenco coeso, aliado à direção precisa de Ritchie, confere ao longa uma energia vibrante que prende o espectador até o último minuto.
Visualmente, “Magnatas do Crime” mantém o estilo ágil e dinâmico característico do diretor. A cinematografia sofisticada e a edição ritmada contribuem para a imersão no universo do crime londrino, sem jamais comprometer a clareza da narrativa. Esse retorno à estética que consagrou Ritchie reforça sua habilidade em contar histórias intrincadas com fluidez e personalidade.
Mais do que um simples thriller sobre o submundo do crime, “Magnatas do Crime” é um exercício de estilo e inteligência narrativa, que reafirma a relevância de Guy Ritchie no cinema contemporâneo. O filme é uma ode à sagacidade, repleto de personagens inesquecíveis e diálogos memoráveis, garantindo sua posição entre os melhores trabalhos do cineasta. Disponível no Prime Video, a obra é um prato cheio para os fãs de tramas envolventes e de um cinema que alia substância e estilo com maestria.
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