Narrativas centradas em criminosos que transitam impunemente pelo submundo até que o orgulho profissional os traia e precipite sua queda seguem despertando interesse. Hollywood tem verdadeira predileção por personagens que, depois de anos dedicados a atividades ilícitas, sentem o peso do próprio legado e, na busca por redenção, se deparam com dilemas morais. “O Jogo do Assassino” recicla essa fórmula sem grandes inovações, mas com a eficácia de sempre.
Sob a direção de J.J. Perry, a história acompanha um matador de aluguel cujo nome inspira terror nos círculos em que transita. Calculista, frio e meticuloso, ele age sem se deixar envolver pelos dramas daqueles que caem em seu caminho. No entanto, quando se vê à beira da morte, acometido por uma enfermidade incurável, precisa enfrentar sua própria finitude. O longa recorre aos recursos habituais do gênero: cenas frenéticas, um protagonista magnético e um romance inesperado, mantendo-se dentro dos limites já estabelecidos por tantos outros filmes do mesmo nicho.
Joe Flood é um desses personagens que exercem um fascínio quase inexplicável. Diferente da maioria, ele não apenas sobrevive no submundo, mas prospera nele, cercado de luxo e poder. A primeira cena sintetiza isso com perfeição: vestido de gala, ele elimina um chefão do crime durante um recital de dança moderna em Budapeste. A missão, claro, é bem-sucedida, ainda que envolva um enfrentamento desigual contra uma horda de criminosos. A única testemunha de sua presença é Maize Arnaud, a bailarina principal, que Flood resgata do caos e conduz até a rua, onde uma multidão já se aglomera.
Logo, o roteiro desloca seu protagonista para uma sala de exames, onde um diagnóstico brutal é revelado: ele tem poucos meses de vida. Essa virada dramática remete imediatamente a “Pacto de Redenção” (2023), estrelado por Michael Keaton, sugerindo que o argumento já foi explorado à exaustão. Para conferir alguma distinção à trama, Perry insere a figura de Zvi Rabinowitz, o mentor vivido por Ben Kingsley, cuja relação com a espirituosa Sharon, interpretada por Alex Kingston, adiciona uma leveza pontual ao tom do filme.
A presença de Kingsley sugere um compromisso contratual desprovido de entusiasmo, enquanto a veia cômica de Kingston se perde na bagunça dos 104 minutos de projeção. Já Dave Bautista e Sofia Boutella demonstram sintonia em cena, mas o enredo compromete a credibilidade ao sugerir que Flood poderia simplesmente desaparecer sem que ninguém tentasse caçá-lo. A decisão de ajudar sua nova companheira a erguer uma escola de dança parece ingênua demais diante de seu passado. No clímax, um diálogo derradeiro entre os dois reforça essa impressão e escancara o que o filme realmente é: uma armadilha disfarçada de redenção.
★★★★★★★★★★