Em “De Olhos Bem Fechados”, Stanley Kubrick explora temas como domínio, desejo e fidelidade em um thriller que, embora não contenha um elemento sequer de sobrenatural ou monstruoso, arrepia até a espinha. O filme retrata a jornada de um homem em busca de autodescoberta após ouvir de sua esposa que ela fantasiou sexualmente com um marinheiro durante um cruzeiro. Essa revelação o conduz a uma festa secreta repleta de orgias e rituais macabros.
A infidelidade masculina na sociedade é tão comum quanto aceita, enquanto a feminina é tratada com surpresa e vulgaridade, refletindo o próprio desconforto em admitir que a mulher também possui desejos sexuais. Mas, espere. Não é sobre “De Olhos Bem Fechados” e nem sobre Stanley Kubrick que falaremos aqui. Essa introdução serve para apresentar o verdadeiro objeto de nossa análise: o thriller de 2008 dirigido e adaptado para o cinema por Richard Eyre, “O Amante”.
Estrelado por Liam Neeson, o longa apresenta Peter, um engenheiro de software bem-sucedido que acaba de perder sua esposa para um câncer. Contudo, sua dor se transforma em choque quando ele descobre fotos e mensagens secretas trocadas entre Lisa (Laura Linney), a falecida, e um suposto amante chamado Ralph (Antonio Banderas).
Embora Lisa já tenha falecido, e justamente por isso Peter esteja impossibilitado de confrontá-la sobre a traição, ele se torna obcecado pelo amante. Dominado por uma mistura de raiva e curiosidade, decide viajar até Milão para encontrar Ralph, confrontá-lo e, eventualmente, vingar-se, matando-o.
Romola Garai interpreta Abigail, filha de Peter e Lisa, que tenta conter as ações passionais e impulsivas do pai para evitar uma tragédia maior. Enquanto isso, Ralph, que sequer sabe da morte de sua amada, tenta contatá-la desesperadamente. Marido e amante inevitavelmente se cruzarão, levando a um confronto onde sentimentos tão intensos quanto paixão e vingança colidem.
Mas por que começamos falando de “De Olhos Bem Fechados”? Acredito que, embora a qualidade do filme de Kubrick seja incomparavelmente superior, há algo de similar entre as duas obras. Seja pela elegância cosmopolita das ambientações e figurinos ou pela forma magnética e enigmática com que ambos os diretores abordam o amor. No entanto, a maior semelhança reside na maneira como exploram a fragilidade do ego masculino diante de uma traição — real ou presumida — e na bestialidade com que lidam com isso, buscando vingança.
“O Amante” é um filme que dificilmente deixa uma marca profunda na memória do espectador, mas sobrevive graças às atuações fascinantes de seus três protagonistas, que conferem intensidade, profundidade e credibilidade à narrativa.
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