O filme que levou 14 anos para ser filmado, não usou dublês e tem um dos maiores plot twists da história — no Prime Video Divulgação / Diamond Films

O filme que levou 14 anos para ser filmado, não usou dublês e tem um dos maiores plot twists da história — no Prime Video

Quanto mais próspera uma terra, mais inimigos atrai para si, voluntária ou involuntariamente. É o poder é quem dá as cartas em quase todas as relações humanas, e como droga perigosa que é, tem efeitos colaterais arrebatadores. Ninguém questiona a verdade de que a democracia é um mecanismo muito bem azeitado, composto de avanços e retrocessos, e seu funcionamento depende em larga medida da capacidade que seus líderes precisam ter quanto a colocar em prática a autoridade de que lhes reveste o cargo que ocupam em nome do povo. 

Todavia, o que deveria ser um capital a ser invejado por todas as civilizações ao redor do mundo torna-se, contrariamente, motivo de ataques que não raro degringolam nas mais variadas modalidades de barbárie, espraiando-se de um a outro polo do globo. Christian Gudegast desbasta uma fina rede de intrigas e corrupção no frenético “Covil de Ladrões”, uma história de gente disposta a enriquecer a qualquer custo, seguida de muito perto, claro, por abnegados heróis que jamais terão um milésimo da fortuna que defendem por a própria vida, se necessário.

O homem passa a vida defendendo-se de seus próprios impulsos, abafando a vontade de rebelar-se contra toda a insana fantasia que o cerca, e dessa forma refinando o propósito de se aperfeiçoar, de fazer da permanência no mundo um tempo menos atribulado e mais aprazível. O dinheiro entra nessa equação como uma variável mágica, que é capaz, muitos creem, de transformar o barro em ouro, ainda que o feitiço também possa virar. Acontecem nove assaltos a banco por dia em Los Angeles, o que faz da Cidade dos Anjos o lugar em que essa modalidade criminosa é praticada com mais frequência em todo o mundo. Gudegast e o corroteirista Paul T. Scheuring alongam-se sobre o expediente dos bancos americanos em casos de depósitos suspeitos, fazendo questão de ressaltar também que as notas deterioradas são substituídas por cédulas novas, como se aquela montanha de dinheiro descartado jamais tivesse existido. 

Na introdução, uma sequência brutal trata de dirimir qualquer questionamento acerca da ousadia do crime organizado, com uma gangue atacando como feras guardas que levam um carro-forte e, delirantemente, param numa lanchonete de Gardena, no sul de LA, pouco depois das cinco da manhã. Tudo quanto ocorre até o desfecho pode ser resumido na luta entre Nick O’Brien, o policial da unidade de elite vivido por Gerard Butler em sua versão assumidamente brucutu, e Ray Merrimen, o mandachuva da quadrilha responsável pelo ataque inicial, de Pablo Schreiber. No meio, há muito tiro e muito, muito sangue, mas nada se iguala a um bom acerto de contas (que continua em “Covil de Ladrões” [2025], também assinado por Gudegast), não é mesmo?

Filme: Covil de Ladrões
Diretor: Christian Gudegast
Ano: 2018
Gênero: Ação/Crime/Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.