Denis Villeneuve continua sua busca por redefinir os limites do épico cinematográfico. Ao assumir a missão de adaptar “Duna”, a icônica saga de Frank Herbert (1920-1986), o cineasta canadense optou por uma abordagem distinta da versão de David Lynch (1984), que privilegiava o surrealismo. Em “Duna: Parte Um” (2021), Villeneuve apostou na grandiosidade visual e sonora para construir uma experiência imersiva e sensorial, explorando ao máximo as possibilidades do cinema contemporâneo.
Agora, em “Duna: Parte Dois”, a narrativa aprofunda a metamorfose de Paul Atreides, um jovem herdeiro que, forjado pela adversidade, assume o peso de sua própria lenda. O filme potencializa as qualidades hipnóticas do primeiro capítulo, exigindo uma atuação ainda mais intensa de Timothée Chalamet. O ator, em plena maturidade artística, entrega uma interpretação multifacetada, transitando entre vulnerabilidade e determinação ao dar vida a um messias relutante. Paul é um homem dilacerado entre sua visão idealista e a brutalidade da guerra que precisa travar.
A trama se desenrola em Arrakis, planeta árido onde a especiaria – substância essencial para a expansão do império – é protegida por colossais vermes da areia. Os Fremen, habitantes nômades submetidos a uma opressão secular, nunca tiveram um verdadeiro líder que os conduzisse à revolta. Até que Paul, visto como um salvador, aceita seu destino e desafia o domínio dos Harkonnen.
O roteiro, assinado por Villeneuve e Jon Spaihts, retoma os eventos de “Duna: Parte Um”, destacando o impacto do duelo entre Paul e Jamis (Babs Olusanmokun). A morte do guerreiro adversário leva Paul a ser acolhido pelos Fremen, para apreensão de sua mãe, Jessica (Rebecca Ferguson). A atriz entrega uma performance intensa, revelando as camadas de uma mulher que, antes imponente, precisa adaptar-se à vida nômade e aos desafios impostos pelo deserto. O estoicismo dos Fremen se entrelaça às suas crenças espirituais, enquanto a especiaria adquire um caráter transcendental, ampliando a percepção e delineando o caminho de Paul.
No terceiro ato, “Duna: Parte Dois” aprofunda as reflexões filosóficas e políticas do universo de Herbert. A fotografia de Greig Fraser, vencedor do Oscar pelo primeiro filme, retorna com composições arrebatadoras. Os tons ocres e avermelhados de Arrakis contrastam com cenas monocromáticas que ressaltam a brutalidade das batalhas. Austin Butler impressiona na pele do vilão Feyd-Rautha, entregando uma atuação magnética e ameaçadora. Javier Bardem, por outro lado, exagera na composição de Stilgar, tornando sua presença menos impactante do que se esperava.
Paul Atreides, ciente do peso de suas escolhas, percebe que sua jornada está longe do fim. Villeneuve, por sua vez, sinaliza que “Duna: Parte Três” será a culminação dessa epopeia cinematográfica. Com um domínio absoluto da ficção científica, o cineasta entrega uma continuação grandiosa e visceral, ampliando ainda mais o fascínio deste universo árido e implacável.
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