Os desejos que nos movem nem sempre trazem as respostas esperadas, e essa percepção percorre mais de duas horas de uma narrativa que mistura espiritualidade, prazer e a busca por autocompreensão. A protagonista de “Comer, Rezar, Amar” abandona o cotidiano seguro de Nova York para se lançar em uma jornada marcada por paisagens deslumbrantes e conflitos internos. Inspirada pelo épico de Homero, essa trajetória feminista contemporânea leva-a a Bali, Índia e Itália, onde aprende que a paz verdadeira não é um destino, mas uma construção íntima e silenciosa. Elizabeth Gilbert representa inquietações universais, questionando os limites entre viver intensamente e encontrar serenidade, enquanto incorpora a filosofia do “carpe diem” de forma involuntária.
Sob a direção de Ryan Murphy, a adaptação do best-seller homônimo publicado em 2006 foca nas contradições de uma mulher em busca de transformação, retratando suas quedas e ascensões com uma honestidade marcante. A performance magnética de Julia Roberts dá vida à complexidade de Liz, que oscila entre o egoísmo e a vulnerabilidade. Os cenários de Roma oferecem deleite e leveza, mas é na Ásia que os encontros ganham densidade: um texano introspectivo, um guru balinês que mescla humor e sabedoria, e Felipe, um brasileiro que personifica novas possibilidades. A trama evidencia que, mesmo diante de desafios, a busca pelo equilíbrio é tão essencial quanto os momentos de desequilíbrio.
O roteiro de Murphy e Jennifer Salt reforça a profundidade dos conflitos da protagonista, ora causando antipatia, ora despertando empatia, enquanto sua jornada externa reflete uma busca interna por identidade. A amizade com Richard, interpretado por Richard Jenkins, torna-se um ponto crucial na transformação de Liz, marcando seu amadurecimento emocional. Momentos como uma dança nostálgica com o ex-marido ou um diálogo agridoce com um antigo namorado revelam nuances que humanizam a personagem. Já o romance com Felipe, vivido por Javier Bardem, surge como um encerramento esperançoso, deixando a reflexão de que o equilíbrio, muitas vezes, reside no próprio ato de buscar.
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