O casamento perfeito entre a fantasia e o terror em obra-prima recém-lançada com 4 indicações ao Oscar e outros 159 prêmios Divulgação / Focus Features

O casamento perfeito entre a fantasia e o terror em obra-prima recém-lançada com 4 indicações ao Oscar e outros 159 prêmios

O termo “Nosferatu” deriva de “nesuferit”, expressão de origem húngaro-românica que significa “intolerável”. No imaginário artístico, tornou-se sinônimo de vampiro, popularizado por Bram Stoker em “Drácula” (1897). Duas décadas depois, F.W. Murnau ousou adaptar o livro ao cinema sem permissão dos herdeiros do autor, modificando elementos essenciais e criando um marco do expressionismo alemão. Seu “Nosferatu” eternizou o vampiro como criatura grotesca e demoníaca, contrapondo-se aos arquétipos posteriores de figuras sedutoras e sexualizadas.

Agora, Robert Eggers, mestre do terror contemporâneo, revisita esse ícone sombrio. Conhecido pela precisão histórica e pela criação de atmosferas densas, o diretor entrega uma obra que mescla autenticidade e reinvenção. Filmes como “A Bruxa” e “O Farol” já provaram sua habilidade em evocar tensão e mistério. Em “Nosferatu”, Eggers recorre a influências do expressionismo alemão e imprime sua marca: fotografia dessaturada, uso marcante de chiaroscuro e cenários minimalistas. As sombras intensas e a iluminação à luz de velas ampliam a vulnerabilidade dos personagens, enquanto longas sequências contemplativas e referências ao folclore local aprofundam a narrativa.

A trama acompanha Thomas e Ellen Hutter (Nicholas Hoult e Lily-Rose Depp), um casal apaixonado. Thomas, advogado recém-formado, é enviado à Romênia para negociar a venda de uma propriedade ao misterioso Conde Orlof (Bill Skarsgård). O que deveria ser uma transação lucrativa revela-se um pesadelo: Orlof é uma entidade demoníaca obcecada por Ellen, planejando manipular o casal para conquistá-la.  

Ellen, que desde a infância enfrenta crises de sonambulismo e delírios, possui uma conexão ancestral com o sobrenatural. Após uma infância marcada por perdas, ela invocou uma entidade para consolá-la, um laço espiritual que persiste como um fardo. Manipulada por Orlof, Ellen se perde em uma espiral de sonhos e realidade, tornando-se vítima de uma relação tão abusiva quanto perturbadora. Willem Dafoe interpreta um médico especializado em ocultismo, enquanto Aaron Taylor-Johnson encarna Sievers, amigo de Thomas que tenta proteger Ellen, mas paga um preço alto por sua lealdade.

Como Orlof, Skarsgård reinventa a figura do vampiro. Abandonando o visual careca do clássico de Murnau, ele encarna um ser grotesco, parcialmente putrefato e com bigodes, remetendo ao folclore romeno. O ator mergulhou no papel, estudando canto lírico para alcançar tons vocais intimidadores e dominando o romeno antigo, assegurando autenticidade ao personagem.

A ambientação gótica e a escuridão opressiva reforçam o tom sombrio, desafiando o espectador a decifrar os detalhes ocultos nas sombras. O elenco brilha em performances impressionantes, com Lily-Rose Depp entregando uma Ellen cativante e complexa. Eggers equilibra tensão, beleza estética e um terror visceral, garantindo que “Nosferatu” transcenda o gênero, tornando-se um clássico moderno.

O trabalho de Eggers é mais que um tributo ao original: é uma reimaginação ousada que consolida sua habilidade única de reinterpretar mitos e criar experiências cinematográficas imersivas. “Nosferatu” não apenas assusta, mas também desafia, envolvendo o público em uma narrativa tão inesquecível quanto perturbadora.

Filme: Nosferatu
Diretor: Robert Eggers
Ano: 2024
Gênero: Drama/Terror
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.