O uruguaio Fede Alvarez é mesmo o enfant terrible da indústria cinematográfica deste século 21. Alvarez já demonstrara autoridade sobre seu ofício no quase experimental — e ótimo — “Ataque de Pânico” (2009), curta sobre uma ofensiva extraterrestre em Montevidéu cujas estimativas de gastos não excederam US$500, e que garantiu ao então publicitário, à época com trinta anos, um contrato nababesco. Se com uma ninharia Alvarez foi capaz de fazer miséria, o que poderia acontecer à concorrência se dispusesse de um caixa com muitos zeros à direita, equipe afiada e todos os recursos tecnológicos de que precisasse a fim de quebrar a banca de vez? É o que acontece em “Alien: Romulus”, o nono longa sobre criaturas extraterrestres grotescas nada dispostas a partilhar seus domínios com o homem depois que a Terra vira um imenso campo de despojos. Alvarez e os corroteiristas Dan O’Bannon e Ronald Shusett voltam a pontos levantados por Ridley Scott em “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979), a produção inaugural da franquia, juntando boas novidades tecnológicas, uma obrigação em trabalhos dessa natureza.
A partir de suas fraquezas, o homem pode se tornar um herói. Ou, pelo menos, resistir. O terror no cinema tem se mostrado cada vez mais dinâmico, tomando por fundamento assuntos os mais variados. Por paradoxal que seja, tem se observado também nesse filão que quanto menor o orçamento, maiores as chances do resultado se constituir num enredo criativo, cheio de reviravoltas originais que não brigam com a verossimilhança e uma conclusão que deixa um gosto de quero mais. Rain Carradine, a heroína da vez, vive num planeta que nunca recebe luz do sol, do qual está louca para sair.
Ela crê que já tenha cumprido a cota de horas numa mina e esteja apta a procurar um cantinho mais aconchegante, mas ao se dirigir a um dos postos que tratam do assunto mantidos por algum governo despótico, acompanhada do irmão, Andy, fica sabendo que precisará cumprir mais cerca de uma década de expediente. Andy é um híbrido de gente e robô incapaz de fazer mal a uma mosca, vertendo sangue branco ao ser atacado por um bando de moleques ao ser deixado sozinho por Rain enquanto ela tentava resolver a situação deles. Como não há outro jeito, eles embarcam na aventura de que Alvarez trata aqui.
Apesar das boas sequências de lutas interespaciais, a relação entre Rain e Andy, trabalhada com cuidado pelo diretor, é o pulo do gato para que se entenda tudo mais. Cailee Spaeny e David Jonsson poderiam passar as duas horas confinados naquele monte de sucata cósmica, com ou sem o monstro de dentes pontiagudos e pele escamosa que devorara Sigourney Weaver quatro décadas e meia antes que “Alien: Romulus” já seria um bom filme. A produção de Scott e o elenco de apoio deixam essa última empreitada com uma cara fresca e nostálgica, paradoxo no qual a ficção científica encontra histórias singulares como esta.
★★★★★★★★★★