O filme que foi rejeitado pela Netflix, mas indicado ao Oscar 2025: no Prime Video Divulgação / Rocket Science

O filme que foi rejeitado pela Netflix, mas indicado ao Oscar 2025: no Prime Video

Filho de Fred Trump, figura-chave no setor imobiliário nova-iorquino, Donald Trump seguiu um caminho que o transformaria de herdeiro promissor em uma das personalidades mais divisivas do cenário global. O longa “O Aprendiz”, dirigido por Ali Abbasi e com roteiro de Gabriel Sherman, não se limita a recontar fatos biográficos. Ele desconstrói a figura de um empresário que transcendeu os negócios para ocupar posições centrais na política e na cultura popular. A narrativa detalha o crescimento de seu império em áreas como hotelaria, entretenimento e televisão, revelando a complexidade de um personagem que, entre vitórias e escândalos, consolidou-se como uma marca global.

O filme aborda Trump como um estrategista astuto, mas não omite seus aspectos mais controversos. São exploradas as inúmeras acusações que enfrentou, desde fraudes fiscais e processos por discriminação racial até alegações de obstrução de justiça e tentativas de subverter os resultados das eleições de 2020. Embora essas acusações não tenham gerado condenações criminais, elas ajudam a compor um retrato essencial para entender a figura pública. A obra não se esquiva de evidenciar a tensão entre suas conquistas e as polêmicas que permeiam sua trajetória.

Sebastian Stan entrega uma atuação poderosa ao interpretar o 45º presidente dos Estados Unidos, capturando as nuances de uma personalidade marcada por ambição desmedida e estratégias polêmicas. A história retrocede aos primeiros anos de Trump como jovem empresário, trazendo à tona sua relação com Roy Cohn, advogado e mentor interpretado brilhantemente por Jeremy Strong. Figura central na narrativa, Cohn exerceu influência decisiva no estilo combativo e audacioso que marcaria a carreira de Trump.

Cohn, que começou sua trajetória como promotor no caso Rosenberg e assessor do senador Joseph McCarthy, teve uma carreira pontuada por táticas implacáveis e queda dramática. Em 1986, perdeu sua licença de advogado por má conduta, sendo posteriormente abandonado por Trump, simbolizando a natureza pragmática e descartável de suas alianças. Essa relação é um ponto crucial no enredo, ilustrando como Trump moldou sua visão de lealdade e poder.

O filme vai além do indivíduo, explorando as engrenagens que moldaram a sociedade americana nas últimas décadas. Ele revela as dinâmicas de poder e alianças oportunistas que redefiniram carreiras e influenciaram o curso da história. A parceria entre Trump e Cohn é uma lente poderosa para compreender como essas forças operaram e continuam a impactar a política e os negócios.

Sob a direção precisa de Ali Abbasi, o filme apresenta uma obra rica em camadas, que desafia o espectador a refletir sobre questões complexas. As atuações são um destaque incontestável: Jeremy Strong entrega uma performance digna de prêmios, ao passo que Sebastian Stan impressiona com uma interpretação equilibrada entre carisma e ambição. Ambos os atores contribuem para um retrato multifacetado de figuras profundamente influentes.

Apresentado no Festival de Cannes, o filme foi recebido com aclamação, refletida em oito minutos de aplausos. Apesar de dificuldades para fechar contrato com a Netflix, devido ao temor de reações do público americano, a obra se posiciona como uma análise indispensável para compreender os eventos turbulentos que moldaram a história recente dos Estados Unidos.

Com uma abordagem provocativa e sofisticada, “O Aprendiz” ultrapassa os limites do biográfico para oferecer um mergulho crítico na ascensão de Donald Trump. A produção questiona as estruturas de poder, as consequências da ambição desmedida e as relações de conveniência que sustentam figuras polarizadoras. Um convite à reflexão sobre os bastidores do poder e suas implicações duradouras.

Filme: O Aprendiz
Diretor: Ali Abassi
Ano: 2024
Gênero: Biografia/Drama
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★