O cinema desempenha um papel singular na preservação de memórias e na revisitação de personagens que moldaram a história, muitas vezes resgatando figuras cujas trajetórias merecem ser lembradas. Em “Invencível”, Angelina Jolie retrata a extraordinária vida de Louis Zamperini (Jack O’Connell), um filho de imigrantes italianos nos Estados Unidos cuja jornada, marcada por coragem e resiliência, transcendeu adversidades incomensuráveis. Competidor olímpico em 1936, na prova de 5.000 metros em Berlim, Louie impressionou o mundo com seu talento, embora não tenha conquistado medalhas.
O filme oferece um mergulho na juventude de Zamperini, destacando um menino rebelde e desacreditado que, sob a influência de seu irmão mais velho, encontrou um propósito no atletismo. A narrativa traça sua ascensão meteórica nos esportes escolares, culminando em recordes impressionantes que abriram caminho para sua participação nas Olimpíadas. No entanto, a Segunda Guerra Mundial redefine completamente sua história.
Alistado na Força Aérea dos Estados Unidos, Louie enfrenta um dos maiores desafios de sua vida quando seu avião, o B-24 Liberator, cai durante uma missão. Ele e seus companheiros, Phil (Domhnall Gleeson) e Mac (Finn Wittrock), sobrevivem em um bote salva-vidas por 47 dias, desafiando a natureza em sua forma mais brutal: insolacão, desidratação, fome, ataques de tubarões e bombardeios aéreos japoneses. Durante esse período, Mac sucumbe às privações, enquanto Louie e Phil são capturados pela Marinha Imperial Japonesa.
O cativeiro nos campos de prisioneiros de guerra impõe provações ainda mais severas. Zamperini suporta torturas, trabalhos forçados e uma desumanização calculada por seus algozes. Apesar de dado como morto, ele resiste até o fim do conflito em 1945. Ao retornar aos Estados Unidos, encontra-se em uma batalha interna contra os traumas da guerra, manifestados em forma de estresse pós-traumático e alcoolismo. Contudo, ao abraçar o cristianismo, Louie transforma sua dor em missão, dedicando-se a jovens em situações vulneráveis.
Baseado no best-seller “Unbroken: A World War II Story of Survival, Resilience, and Redemption”, de Laura Hillenbrand, o filme é uma obra que combina narrativa poderosa e rigor histórico. A adaptação para o cinema contou com a colaboração de Joel e Ethan Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson. Os irmãos Coen foram responsáveis pela estrutura dramática, enfatizando momentos cruciais da vida de Zamperini, enquanto LaGravenese e Nicholson refinaram o roteiro para equilibrar intensidade emocional e sequências de ação.
Com três indicações ao Oscar – Melhor Fotografia, Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição de Som –, “Invencível” conquistou espaço tanto pela qualidade técnica quanto pela profundidade de sua história. Angelina Jolie demonstra habilidade em capturar a essência de uma narrativa que exige delicado equilíbrio entre heroísmo e vulnerabilidade.
Louis Zamperini faleceu em 2014, ano de lançamento do filme. Apesar da saúde fragilizada, teve a oportunidade de assistir a uma versão preliminar enquanto estava hospitalizado. Em um gesto que reflete sua generosidade, solicitou que o filme evitasse enfatizar excessivamente sua fé cristã para que sua história pudesse tocar um público mais amplo e diverso. “Invencível” permanece como um tributo à força do espírito humano, inspirando gerações a buscar significado mesmo nas adversidades mais sombrias.
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