A busca pela liberdade talvez seja o impulso mais essencial ao ser humano. Mas como agir quando essa aspiração transcende sua dimensão simbólica e se converte em um sonho dentro de outro? O título de um dos últimos poemas de Edgar Allan Poe (1809-1849) oferece um encaixe perfeito para descrever “O Problema dos 3 Corpos”, uma intrigante jornada futurista que examina o obscurantismo — essa maldição que inviabiliza a compreensão entre os homens, tornando inalcançável uma utopia essencialmente inalcançável. Baseada na obra homônima do escritor chinês Liu Cixin, lançada em 2006, a série de David Benioff, Alexander Woo e D. B. Weiss propõe uma narrativa que transita pelo tempo, fascinando os que apreciam histórias densas e repletas de enigmas. Ao longo de sua trama, mistérios se multiplicam incessantemente, entrelaçando questões de crescente complexidade e explorando temas urgentes com uma profundidade cada vez maior.
A ciência e a religião nunca se harmonizaram, e o progresso, frequentemente, parece se acomodar à ciência apenas quando esta permanece restrita às suas funções práticas — um argumento que, muitas vezes, serve apenas para mascarar o desprezo ao saber e o autoritarismo das opiniões, como evidenciado nos tempos de pandemia. Contraditório? Sem dúvida, mas essas dinâmicas já são velhas conhecidas. A solidão, por sua vez, ultrapassa a simples vontade de estar só; há momentos cruciais na vida humana em que afastar-se do mundo é indispensável, ainda que simbolicamente e por um breve instante. Há algo de paradoxal na necessidade de esquecer muito para lembrar o essencial, de mergulhar no mais profundo de si mesmo para discernir o próximo passo.
Logo no início, um físico é publicamente humilhado durante a Revolução Cultural Chinesa (1966–1976), em frente à sua filha, Ye Wenjie. A reação da personagem de Zine Tseng ecoa ao longo das décadas seguintes, até desaguar nos eventos de sessenta anos depois, quando mortes inexplicáveis de cientistas inquietam o planeta. Em meio a esses acontecimentos, Auggie Salazar se depara com uma misteriosa contagem regressiva que parece projetada em sua visão. Os criadores da série utilizam esse recurso para inserir camadas de surrealismo que envolvem o público, introduzindo figuras que desaparecem tão rápido quanto surgem. O incômodo gerado por Eiza Gonzalez em suas aparições encontra eco na investigação conduzida por Da Shi, o perspicaz e peculiar detetive interpretado por Benedict Wong, trazendo à tona o peso desconcertante de “O Problema dos 3 Corpos”.
Série: O Problema dos 3 Corpos
Criação: David Benioff, Alexander Woo e D. B. Weiss
Ano: 2024
Gêneros: Thriller
Nota: 9/10