O filme que todas as pessoas deveriam assistir no primeiro mês do ano está no Prime Video Divulgação / Fox Searchlight Pictures

O filme que todas as pessoas deveriam assistir no primeiro mês do ano está no Prime Video

Terrence Malick, um dos mais ousados autores da arte audiovisual, busca em “A Árvore da Vida” alcançar aquilo que há de mais intrínseco no ser humano. Para isso, mergulha fundo em suas próprias memórias, revelando-se um explorador de territórios emocionais. Ao moldar um enredo de aparente simplicidade, ele desvela um universo de profundidade rara. O grande mérito de seu roteiro está em persuadir o público de que a narrativa daquela família — e, de forma ampla, de qualquer família — ecoa a jornada da própria humanidade.

Malick constrói esse elo universal por meio de uma síntese única entre refinamento visual e uma estética despretensiosa, coroada pela genialidade do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki. O trabalho do mexicano, reconhecido por sua maestria, transcende palavras ao transformar o imaginário do cineasta em composições visuais impecáveis, criando uma comunicação intuitiva e visceral, como se todos compartilhassem o mesmo fio condutor de vida.

No cenário bucólico do Texas dos anos 1950, onde amplos quintais e janelas abertas captam a cadência de um mundo menos apressado, a família O’Brien vive entre a inocência dos filhos e a monotonia dos adultos. As crianças, três meninos, desfrutam de um verão infinito, com a despreocupação de quem parece integrado ao cenário natural. Esse retrato idílico, no entanto, é pontuado por uma rígida figura paterna, interpretada por Brad Pitt, cuja presença austera contrasta com a suavidade do cotidiano. Malick, assim como León Tolstói, reflete sobre a vastidão do universo por meio da introspecção familiar, permitindo até mesmo aos que jamais vivenciaram essa liberdade pueril compreender o peso emocional da trama e seu alcance universal.

O ritmo do filme é cuidadosamente calculado, alternando entre distanciamento contemplativo e proximidade emocional, conduzido magistralmente pelas escolhas narrativas e estéticas de Malick. Brad Pitt, como o Senhor O’Brien, exerce uma autoridade silenciosa, representando uma força inflexível que molda os filhos e reverbera por gerações. A tensão culmina com a partida de Steve, o filho mais velho, para a Guerra do Vietnã, um evento que altera para sempre a dinâmica familiar. Em meio a essas transformações, o foco recai sobre Jack, o caçula, que questiona o sentido da existência diante da perda e da vastidão da criação, contemplando desde o surgimento do universo até o inevitável fim de toda matéria.

Hunter McCracken e Sean Penn, como as versões jovem e adulta de Jack, dão corpo à complexidade emocional do personagem, explorando sua luta interna e sua conexão com o ciclo interminável da vida. Jessica Chastain, por sua vez, encarna a mãe com uma espiritualidade quase divina, representando a contraposição exata à rigidez de Pitt. Em sua performance, carrega a essência de uma mulher invisibilizada, mas profundamente enraizada no papel de equilíbrio emocional da família. Essa dicotomia entre os personagens simboliza forças universais, revelando a beleza e a fragilidade da existência.

O que acontece na intimidade dos O’Brien não é exclusivo; repete-se em lares ao redor do mundo e ao longo do tempo. “A Árvore da Vida” transcende a narrativa convencional, propondo uma reflexão sobre os ciclos infinitos da natureza e da humanidade. O filme, com sua poética singular, não se limita ao que é visto na tela; ele documenta as conexões invisíveis que moldam a experiência humana.

Filme: A Árvore da Vida
Diretor: Terrence Malick
Ano: 2011
Gênero: Drama/Fantasia/Ficção Científica
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★