A paixão, implacável como sempre, nos reduz a meros mortais sob seu jugo, nivelando todos pelo mesmo patamar. Sem uma explicação racional, basta que alguém exiba aquele brilho no olhar — típico de quem viu o passarinho da felicidade — para que o entorno se contagie. Os já apaixonados se enchem de ternura, enquanto os que buscam sua metade experimentam um misto de encanto e inveja. Este afeto coletivo, no entanto, nem sempre segue roteiros idílicos.
Mesmo o amor, a mais sublime das emoções, sucumbe ao fracasso em certas ocasiões. O que se acredita ser um vínculo raro e inquebrável pode revelar um lado sombrio, longe do idealizado “fogo que arde sem se ver”. Em “Amor que Sufoca”, somos lembrados de como o amor prega peças até nos mais sensatos, como um jovem taiwanês que almeja o sucesso. Liao Ming-yi, diretor premiado por sua ousadia em “I WeirDo” (2020), retorna ao cenário com um olhar que mescla técnica e sensibilidade, solidificando seu prestígio na indústria asiática.
A humanidade é, afinal, refém de sua busca por felicidade, um estado tão raro que, se vivido por todos, talvez redefinisse nossa espécie. Somos céticos esperançosos, crentes em milagres improváveis, ou cínicos que atribuem uma mística ao que nos rodeia. Nesse cenário, o encontro casual de dois leitores em um café silencioso transforma-se na gêneses de uma relação curiosa e marcada por exigências. É nesse terreno que Liao Ming-yi constrói um relato único sobre as complexidades do amor.
O protagonista, envolto em incertezas, divide a trama com Pai Chia-chi, uma mulher de aparência distante e valores rígidos. Liao explora suas dinâmicas, desenhando um relacionamento repleto de obstáculos. Chia-chi, cristã fervorosa e vegana, oferece abrigo ao pretendente quando ele perde sua moradia, mas impõe condições difíceis. O desenrolar se complica quando o passado retorna: Lin Ai-hsuan, uma paixão do colégio, ressurge transformada e adiciona novas camadas ao enredo.
“Kurosawa Yuri”, como agora se apresenta, é uma figura luminosa que desafia o protagonista a reavaliar suas escolhas e sua submissão. Liao Ming-yi intensifica os conflitos no segundo ato, promovendo embates entre as personagens femininas. Enquanto Chloe Xiang e Nikki Hsieh entregam atuações vigorosas, o protagonista de Austin Lin, embora consistente, brilha mais no trabalho anterior do diretor. Com um toque de suspense e nuances psicológicas, “Amor que Sufoca” revela a fragilidade e a força que coexistem nas relações humanas.
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