Transformar uma obra consagrada, que marcou gerações e acumulou Oscars, em uma sequência sempre carrega o risco de desfigurar o legado original. Alguns cineastas, como Denis Villeneuve em “Blade Runner” e Francis Ford Coppola com “O Poderoso Chefão”, superaram o desafio com êxito. Contudo, essa não é a norma, como sintetizou Black Alien: “uma descida em ponto-morto para o inferno” é o desfecho mais frequente.
Ridley Scott, porém, não hesitou em apostar pesado em “Gladiador 2”. Após enfrentar a complexidade de “Napoleão”, o veterano diretor demonstra que desafios não são um problema. Hoje, mesmo diante de reações mistas — algumas extremamente críticas — é evidente que a aposta foi certeira. A nova produção mantém a força narrativa e o apelo visual característicos de Scott, ainda que não alcance a monumentalidade do original.
No primeiro filme, Russell Crowe eternizou Maximus, enquanto Joaquin Phoenix ofereceu uma atuação magistralmente odiosa como o vilão Cômodo. A sequência, consciente da impossibilidade de replicar o impacto cultural do predecessor, segue outro caminho, sem se distanciar completamente de suas raízes. O enredo foca na trajetória de Hanno (Paul Mescal), um general numida capturado pelos romanos após um confronto liderado por Marco Acácio (Pedro Pascal). Levada a Roma como escravo, a personagem revela sua verdadeira identidade: Lucius, filho de Maximus e Lucilla (Connie Nielsen).
Lucius compartilha o espírito destemido e o senso de honra herdados de seu pai. Como Maximus, torna-se um gladiador implacável, enfrentando adversários mais numerosos e cruéis. Os co-imperadores Caracala (Fred Hechinger) e Geta (Joseph Quinn) governam com mão de ferro, enquanto Macrino (Denzel Washington), um ex-gladiador que ascendeu ao poder, desponta como uma ameaça imponente e insaciável.
Apesar de dúvidas iniciais, “Gladiador 2” surpreende positivamente. Ridley Scott entrega um filme sólido, capaz de capturar a atenção do público, mesmo com ecos do original. A qualidade da direção mantém-se elevada, e as performances são notáveis. Paul Mescal, como protagonista, confere intensidade e humanidade a Hanno/Lucius. Cada papel interpretado por ele ganha vida de forma singular e envolvente. Entretanto, é Denzel Washington quem rouba a cena. Seu Macrino, que poderia facilmente cair na simplicidade de um vilão genérico, emerge como um personagem marcante e complexo.
Sobre premiações, ainda é cedo para especular, mas uma declaração de Christopher Nolan merece destaque: ele considerou “Gladiador 2” o melhor filme de 2024. Um elogio que, por si só, consolida a relevância da produção.
★★★★★★★★★★