É inegável que a figura do assassino em série desperta uma curiosidade sombria em indivíduos que lidam diariamente com a dureza da vida comum — aqueles que vivem modestamente, enfrentam enfermidades recorrentes e buscam emprego em portas que nem sempre se abrem. A Alemanha abraça esse universo peculiar com “O Assassino do Calendário”, uma trama de ritmo calculado que sabe desarmar o espectador em momentos inesperados.
Depois de anos no nicho dos cultos seletos, o terror sem criaturas sobrenaturais começa a conquistar maior destaque. O diretor Adolfo J. Kolmerer adapta o romance de Sebastian Fitzek com uma abordagem austera, que privilegia a precisão visual e encontra em Christian Huck, diretor de fotografia, um parceiro ideal. A narrativa une figuras isoladas e desconfiadas das grandes cidades, casamentos ilusórios, crimes ritualísticos e celebrações macabras. O enredo, inicialmente disperso, aos poucos ganha coesão, entrelaçando subtramas sufocantes que pressionam o público com intensidade crescente.
Imaginar o mundo como uma comunidade sem fronteiras, onde a empatia supera a compreensão superficial, é um ideal que move Jules. Após deixar o Corpo de Bombeiros por razões de saúde, ele se dedica a uma central de apoio telefônico para pessoas em perigo iminente, sobretudo mulheres. Em uma noite aparentemente tranquila, atende a ligação de uma mãe aterrorizada, que afirma ser o próximo alvo de um assassino cuja marca registrada é pintar a data dos crimes em vermelho, deixando um rastro de escolhas difíceis e inquietantes.
O roteiro de Susanne Schneider penetra nos recantos mais obscuros das vidas de Jules e Klara, a próxima vítima, revelando um pouco da densa escuridão que os cerca. Sabin Tambrea e Luise Heyer, rostos conhecidos de séries de sucesso como “Operação Berlim” e “Dark”, trocam posições em momentos cruciais, adicionando camadas de mistério ao já tenso enredo. Friedrich Mücke, como Martin, marido de Klara, injeta na história uma dose de erotismo que evoca “De Olhos Bem Fechados” (1999), de Stanley Kubrick, em sua exploração da fragilidade humana diante do desejo. Aqui, a violência é um pano de fundo, não o foco central.
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