A despedida que parou o cinema: o capítulo final de Marlon Brando está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

A despedida que parou o cinema: o capítulo final de Marlon Brando está na Netflix

Quando o cinema se perde em explosões e efeitos, é raro encontrar uma obra que recupere o fascínio pela força dos personagens e das atuações. “A Cartada Final” se sobressai nesse cenário como um exemplo de narrativa sofisticada, que une profundidade e tensão sem recorrer a artifícios grandiosos. Frank Oz conduz a história com precisão, reunindo três gerações de estrelas: Robert De Niro, Marlon Brando e Edward Norton. O trio protagoniza um intrincado roubo, explorando dilemas pessoais e a dinâmica de um jogo de confiança e traição. Essa escolha pelo intimismo em um gênero tão repleto de exageros é uma prova de que o impacto no cinema pode vir da engenhosidade narrativa e do talento de seus intérpretes.

Em um cenário onde as produções frequentemente priorizam efeitos grandiosos em detrimento de profundidade narrativa, “A Cartada Final” emerge como uma demonstração de sofisticação, explorando a complexidade dos personagens e a força das atuações. Sob a direção de Frank Oz, o filme reúne três grandes nomes do cinema: Robert De Niro, Marlon Brando e Edward Norton. A trama acompanha Nick Wells (De Niro), um ladrão de cofres veterano que sonha com uma aposentadoria tranquila, cuidando de seu clube de jazz em Montreal. No entanto, seus planos são interrompidos por uma oferta irresistível de Max (Brando), um intermediário astuto, que o convence a participar do roubo de um cetro francês do século XVII, protegido por um cofre de alta segurança. Para isso, entram em cena as habilidades de Jack (Norton), um jovem criminoso que, em uma atuação meticulosa, se infiltra na alfândega local sob o disfarce de um funcionário com limitações cognitivas.

As interpretações principais se destacam como pilares do longa. De Niro confere a Nick uma aura introspectiva, resultado de décadas de vida no submundo. Norton exibe um talento multifacetado, oscilando entre carisma e manipulação calculada, enquanto Brando, em sua última aparição no cinema, entrega um Max enigmático e sutilmente divertido. A química entre os três sustenta a narrativa, marcada por improvisos que criam momentos ora tensos, ora descontraídos. Embora a personagem de Angela Bassett, Diane, tenha pouco espaço para explorar sua relação com Nick, outras figuras secundárias, como Burt, o ajudante fiel, e Stephen, um hacker peculiar, adicionam toques de humor e complementam a atmosfera envolvente.

O ponto alto do filme é o planejamento minucioso do roubo. Cada etapa do golpe é apresentada com meticulosidade, desde os percursos por túneis subterrâneos até o enfrentamento de um sistema de segurança avançado, repleto de sensores infravermelhos e câmeras estratégicas. Apesar de seguir convenções do gênero, o roteiro se distingue pelo cuidado em sustentar a tensão e surpreender sem apelar para exageros. O clímax, longe de ser previsível, foca nas escolhas dos personagens, proporcionando um desfecho que reforça a autenticidade da narrativa.

Frank Oz, conhecido por sua experiência em comédias, surpreende ao construir um suspense equilibrado por momentos de leveza bem calculada. Os diálogos, repletos de ironias discretas, contribuem para o dinamismo da trama. Em cenas específicas, como o encontro entre Nick e Burt, a direção demonstra atenção ao desenvolvimento das interações, transformando situações triviais em momentos reveladores. A trilha sonora, com forte influência de jazz, enriquece o contexto e reflete a personalidade do protagonista, ao mesmo tempo em que agrega sofisticação ao ambiente.

Sem pretensão de reinventar o gênero, “A Cartada Final” aposta na execução precisa e na valorização das atuações. Sua força reside nos diálogos inteligentes, nas reviravoltas bem pensadas e na construção meticulosa de cada detalhe. O filme abre mão de espetáculos pirotécnicos para focar na essência do enredo, entregando uma experiência que combina elegância e profundidade. Ao final, deixa uma mensagem clara: o cinema pode ser igualmente cativante quando se apoia na qualidade narrativa e no talento de seus intérpretes.

Filme: A Cartada Final
Diretor: Frank Oz
Ano: 2001
Gênero: Crime/Drama/Thriller
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★