15 milhões de acessos com apenas duas semanas! Série da Netflix baseada em crime real e que virou um fenômeno em mais de 100 países Miles Crist / Netflix

15 milhões de acessos com apenas duas semanas! Série da Netflix baseada em crime real e que virou um fenômeno em mais de 100 países

Se Joseph Lyle e Erik Galen Menendez tivessem a oportunidade de assistir a “Monstros — Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais” de suas celas no Centro Correcional Richard J. Donovan, em San Diego, provavelmente se dividiriam entre a indignação e o alívio. A minissérie, dirigida por Ryan Murphy, mergulha sem reservas nas zonas cinzentas de um dos crimes mais polêmicos dos Estados Unidos, questionando as fronteiras entre vítima e algoz. Ao longo de dez episódios, Murphy não poupa o espectador de cenas gráficas e diálogos provocativos para explorar o que teria levado dois jovens aparentemente perfeitos a assassinar brutalmente seus pais na sala de uma mansão em Beverly Hills.  

O diretor, conhecido por produções como “American Crime Story” e “História de Horror Americana”, aplica aqui sua fórmula de narrativas sombrias e instigantes. O resultado é uma trama que, apesar de chocante, mantém-se hipnotizante. A sequência do assassinato de José e Kitty Menendez é o ponto de inflexão da história. O momento, trabalhado com detalhismo quase cirúrgico, retrata os irmãos cometendo o crime de maneira brutal, mas não sem antes contextualizar os eventos que antecederam a tragédia.  

Uma das cenas mais simbólicas ocorre quando Kitty, em um surto de raiva, arranca a peruca que Lyle usava para esconder sua calvície precoce. O gesto, aparentemente banal, simboliza as fissuras emocionais que permeavam aquela família. Erik, o filho mais novo, assiste em silêncio, paralisado entre o medo e a raiva. É nesse clima de tensão crescente que a narrativa constrói um mosaico complexo de relações familiares, marcado por abusos, humilhações e segredos devastadores.  

Ryan Murphy e Ian Brennan conseguem dar profundidade a cada personagem, especialmente a Erik, que, arrependido, confessa o crime a seu psicanalista. Essa cena, marcada pela vulnerabilidade do personagem, é uma das mais impactantes da série. Interpretado por Nicholas Alexander Chavez, Erik divide o protagonismo com Cooper Koch, que dá vida a Lyle, e Nathan Lane, cujo personagem guia o espectador pelos meandros do caso. Flashbacks revelam o comportamento autodestrutivo dos irmãos após o crime, gastando a herança em luxos extravagantes, festas e carros esportivos, enquanto lidam com a sombra do incesto, sugerida de maneira perturbadora pela narrativa.  

O elenco de apoio, liderado por Javier Bardem e Chloë Sevigny, adiciona camadas à trama, trazendo uma tensão que mantém o espectador envolvido até o último episódio. A série culmina no julgamento dos irmãos, que ecoa o espetáculo midiático do caso O.J. Simpson, ressaltando a fascinação do público por histórias que misturam crime, poder e celebridade.  

Hoje, Lyle e Erik Menendez permanecem encarcerados, separados por um pavilhão, em um destino que reflete a complexidade de suas vidas. Murphy, em sua ousadia característica, transforma a tragédia em uma narrativa que desafia o espectador a questionar as fronteiras entre o horror e a humanidade.