Ethan Hawke é um ator que constantemente nos surpreende de forma positiva. Sua atuação, tão simples, genuína e natural, transmite uma sensação acolhedora, como se estivéssemos conversando com um amigo próximo na varanda de casa. Esse carisma e proximidade que ele evoca tornam ainda mais impactante quando assume papéis completamente opostos, como o vilão sombrio e enigmático de “Telefone Preto”. Essa habilidade de transitar entre personagens tão distintos com tamanha competência prova que sua versatilidade nas telas é, muitas vezes, subestimada.
Hawke possui um talento único de elevar qualquer gênero cinematográfico, incluindo comédias românticas. Um exemplo disso é “Caindo na Real” e, mais recentemente, “Julieta, Nua e Crua”, um filme de 2018 dirigido por Jesse Peretz, atualmente disponível na Max. Esse último longa-metragem conta ainda com as atuações de Rose Byrne e Chris O’Dowd, formando um trio que sustenta com maestria a narrativa leve e envolvente da trama.
No filme, Hawke interpreta Tucker Crowe, um ex-rockstar de meia-idade cuja juventude foi marcada por relacionamentos casuais e filhos de diferentes parceiras. Agora, em um momento de reflexão, ele carrega o peso dos arrependimentos de sua vida e busca uma chance de redenção ao tentar se reaproximar de seus filhos. Entre eles está Jackson (Azhy Robertson), o mais novo e que representa a última oportunidade de Tucker corrigir os erros de sua paternidade negligente.
Enquanto lida com as consequências de seu passado, Tucker está prestes a se tornar avô pela primeira vez. Nesse contexto, ele inicia uma troca de correspondências com Annie (Rose Byrne), uma mulher que ele conhece através de um fórum na internet. Por meio dessas mensagens, os dois compartilham confidências, pensamentos e sentimentos profundos, mesmo sem jamais terem se encontrado pessoalmente.
Quando Tucker decide viajar para Londres para acompanhar o nascimento de seu neto, ele aproveita para marcar um encontro com Annie, finalmente materializando a conexão transatlântica construída virtualmente. Porém, antes que o encontro aconteça, Tucker sofre um infarto e é internado. É no hospital que os dois acabam se conhecendo, e, de forma inesperada, os filhos e ex-parceiras de Tucker se reúnem, criando um cenário caótico, mas também humano e reflexivo.
Um detalhe curioso é que Annie havia recentemente terminado um relacionamento de 15 anos com Duncan (Chris O’Dowd), um homem obcecado pela obra de Tucker Crowe. A coincidência entre os destinos de Annie e Tucker é tão absurda que Duncan inicialmente acredita que ela esteja tramando algum tipo de vingança após o término traumático causado por uma traição.
No desenrolar da história, Tucker e Annie encontram uma afinidade peculiar em meio ao caos que permeia suas vidas. A conexão entre os dois, construída de maneira gradual, culmina em um romance descomplicado e cheio de ternura. “Julieta, Nua e Crua” oferece uma visão delicada e realista sobre as complexidades, os tropeços e as surpresas que a vida reserva, apresentando uma narrativa que é tanto divertida quanto comovente.
Embora o filme não traga uma história extraordinária ou inusitada, sua simplicidade é justamente o que o torna cativante. A leveza da trama, combinada com diálogos afetuosos e atuações consistentes, confere ao longa um charme discreto. E é a atuação de Ethan Hawke que eleva o filme a um patamar especial, provando que, mesmo em produções modestas, sua presença consegue transformar o ordinário em algo inesquecível.
“Julieta, Nua e Crua” não tenta ser grandioso ou revolucionário. É um filme que abraça sua natureza casual e despretensiosa, oferecendo ao público uma experiência doce e reflexiva sobre as imperfeições humanas e as oportunidades de recomeço que a vida, por vezes, surpreendentemente nos oferece.
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