Comédia romântica na Netflix é perfeita para assistir deitado de conchinha com seu amor no sofá Divulgação / Paramount Global

Comédia romântica na Netflix é perfeita para assistir deitado de conchinha com seu amor no sofá

Nada é mais emblemático de um casal em crise do que a tentativa desesperada de resgatar o romance com gestos que remetam à paixão dos primeiros dias. No entanto, a imprevisibilidade das relações humanas é sempre um elemento que desafia qualquer esforço de reconciliação. Em “A Garota Francesa”, dirigido por James A. Woods e Nicolas Wright, o amor é retratado como um emaranhado de sentimentos contraditórios, onde momentos de aparente harmonia desabam sob o peso da insegurança e das tentações externas.

O enredo nos apresenta Gordon Kinski, um professor de literatura inglesa em Nova York, e Sophie-Jeanne Tremblay, uma chef de cozinha franco-canadense. Vivendo o que parece ser uma eterna lua de mel, o casal vê sua bolha de felicidade perfurada por Ruby Collins, uma sedutora apresentadora de TV cujo restaurante badalado em Quebec funciona como palco de intrigas emocionais. Ruby, com sua presença magnética e lábios sempre marcados por um batom vermelho vivo, desperta em Sophie o desejo de confrontar o passado profissional e, em Gordon, uma espiral de ciúmes e insegurança.

A narrativa, que começa com um charme bucólico, perde força à medida que os roteiristas inserem personagens secundários que mais tumultuam do que enriquecem a trama. A sequência inicial é emblemática: Gordon, interpretado por Zach Braff, tenta impressionar Sophie (Evelyne Brochu) com um café da manhã improvisado, queimando brioches e estragando ovos beneditinos enquanto ela vai tranquilamente à feira com uma cesta de palha, emoldurando uma cena de simplicidade idealizada. Contudo, esse idílio é rapidamente corroído por um enredo que oscila entre o humor pastelão e o melodrama artificial.

A chegada de Gordon ao Canadá inaugura uma série de situações absurdas. Forçado a deixar suas aulas — nas quais ensina Shakespeare vestido como o próprio dramaturgo —, ele se vê imerso na excêntrica dinâmica dos Tremblay, a família de Sophie. Entre eles, destacam-se os irmãos, que se enfrentam clandestinamente em lutas de octógono, e a avó com demência, cuja imprevisibilidade impede Gordon de recuperar a aliança de família que planeja oferecer a Sophie. Vanessa Hudgens, em um papel que poderia agregar frescor à história, é engolida pelo tom caótico e inconsistente que domina o filme.

O maior pecado de “A Garota Francesa” é sua tentativa desmedida de combinar sátira romântica com elementos de comédia absurda, resultando em um produto final que soa forçado e pouco cativante. A química entre os protagonistas é prejudicada pelo excesso de situações caricatas, e a pretensão de Woods e Wright de criar uma narrativa multifacetada acaba gerando um espetáculo melancólico e desarticulado. O filme, que poderia ser uma análise perspicaz das complexidades do amor e da identidade, transforma-se em uma colcha de retalhos desordenada e apelativa. 

Filme: A Garota Francesa
Diretor: James A. Woods e Nicolas Wright
Ano: 2024
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★