Uma das maiores histórias de amor do cinema em todos os tempos, com Brad Pitt e Claire Forlani, volta ao catálogo da Netflix Divulgação / Universal Pictures

Uma das maiores histórias de amor do cinema em todos os tempos, com Brad Pitt e Claire Forlani, volta ao catálogo da Netflix

Todo mundo pode vender sua alma para quem quiser. São bastante numerosos os casos de gente que faz um pacto com uma entidade qualquer a fim de alcançar um desejo de que não teria chance de usufruir de outra maneira, porém são raríssimos os que, no momento de pagar a conta, descobrem um artifício pelo qual sair pela tangente. A morte chega para todo aquele que vive, mas a depender da capacidade que se tenha para a negociação, ela, muito astuta, reconhece a sagacidade do interlocutor e termina cedendo.

Em “Encontro Marcado”, Martin Brest funde realismo fantástico a uma engenhosa sátira acerca das trapaças do destino, esse tirano da natureza humana que aqui também fica à mercê de alguns imprevistos. Na releitura de Brest para “Uma Sombra que Passa” (1934), de Mitchell Leisen (1898-1972), sobre a Morte, com “M” maiúsculo, que vem à Terra em missão de paz e fica sabendo que é a indesejada das gentes, como a chamou o poeta recifense Manuel Bandeira (1886-1968), resta clara a tentativa do diretor quanto a sublinhar a relação essencialmente dialética do homem e a finitude, manifesta na dobradinha de dois ótimos atores. Mas nem tudo é perfeito.

William Parrish, o dono de um conglomerado de empresas de comunicação, sofre um ataque cardíaco e padece das alucinações que, dizem, os moribundos costumam experimentar na hora que apavora. O roteiro de Ron Osborn, Jeff Reno e Kevin Wade elabora o incômodo de Parrish frente a sua possível nova realidade, destacando os acordes soturnos da trilha de Thomas Newman. Ele se recupera, mas fica escaldado, e em sua festa de aniversário de 65 anos eventos realmente sobrenaturais acontecem. O diretor desloca a ação do palacete do magnata para um café, no qual Susan, a filha mais nova (e favorita) interpretada por Claire Forlani, conhece um rapaz excepcionalmente bonito, que lhe diz todas as coisas que queria ouvir. Algum tempo depois, ela recebe a notícia de que o tal sujeito está morto, mas ele aparece entre os convidados do pai. Pano longo.

Joe Black, o nome com que Parrish passa a chamá-lo, é um emissário do Além bastante singular. Ele veio buscar o ricaço, isso é óbvio desde o princípio, mas à medida que o enredo avança, percebe-se que ele tem muito mais a fazer aqui embaixo do que acabar com as ilusões de velhos cheios da nota. Esse anjo sombrio deseja saber qual o gosto da manteiga de amendoim, o que sentem os humanos quando fecham os olhos e unem seus lábios e vão parar na cama, e então “Encontro Marcado” passa a fazer sentido. O envolvimento de Joe e Susan lembra as aventuras do tenente-coronel Frank Slade de Al Pacino em “Perfume de Mulher” (1992), também dirigido por Brest, malgrado a química entre Forlani e Brad Pitt não seja das melhores.

Ao contrário do que sugere seu nome, Parrish está mais vivo do que jamais esteve, tapeando Joe Black em convescotes com os outros milionários e uma porção de novos programas que alguém que visita o plano terreno pela primeira vez só pode mesmo achar muito estimulantes, e é esse o pulo do gato aqui. Anthony Hopkins desarma qualquer primeira impressão errônea a respeito de seu personagem, movendo-o de um nababo fútil e arrogante para um homem comum, que só anseia por uma segunda chance para aproveitar um pouco mais sua vida. Depois de três horas, quem poderá realmente condená-lo?

Filme: Encontro Marcado 
Diretor: Martin Brest
Ano: 1998
Gênero: Fantasia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.