Num tempo em que termos como “masculinidade tóxica”, “sororidade” e “fluidez de gênero” pularam das rodas de conversas direto para as páginas dos jornais e os debates na televisão, urdir qualquer comentário sobre filmes como “Doce Vingança 2” é uma temeridade. Se por um lado, a retaliação a que alude o título é justa — do ponto de vista da revanche em si, às favas com o ordenamento jurídico —, por outro é simplesmente impossível a qualquer pessoa que guarde um laivo de estima pela civilização endossar as barbaridades assistidas no filme, de um realismo estarrecedor, contra quem quer que seja.
No segundo volume da trilogia, Steven R. Monroe segue conservando o teor violento do original de Meir Zarchi, batizado sob o título nada genial de “A Vingança de Jennifer”, equilibrando o clímax do primeiro ato, marcado pelos abusos, ao ápice do que vem depois, quando há a reação da vítima, exatamente como se dá em “Doce Vingança” (2010), por sua vez uma releitura da matriz de 1978, “I Spit on Your Grave” (“cuspo na sua cova”, em tradução literal, e muito mais condizente com o espírito do longa). A diferença é que agora a heroína não é mais Jennifer Hills, uma escritora de tramas de suspense que aluga por dois meses um chalé num lugar completamente isolado para concluir seu livro. Aqui, Jennifer sai de cena e é substituída por Katie Carter, uma aspirante a modelo de Manhattan brutalmente seviciada por um fotógrafo búlgaro ao fim de um ensaio. Como se vê, um encadeamento de chavões.
Existem muitas abordagens possíveis para que o se viu em “Doce Vingança” e o que se vê em “Doce Vingança 2”, todas clamando por sensatez. Se por um lado, pode-se com razão criticar o comportamento predatório dos personagens masculinos, por outro as mocinhas de Monroe parecem demasiado inocentes, deficiência que Richard Schenkman e R.D. Braunstein dedicam-se a corrigir em “Doce Vingança 3: A Vingança é Minha” (2015). O roteiro de Neil Elman e Thomas Fenton repisa a oposição entre Jennifer e Katie, aquela uma mulher de algum modo envolvida com o exercício da criatividade e do intelecto, ao passo que a segunda é só uma garota bonita, que vale-se de sua aparência para ganhar dinheiro, o que não deixa de escancarar preconceitos que estavam apenas sugeridos no longa de 2010.
Quando Katie chega à sessão com Ivan, o fotógrafo vivido por Joe Absolom, ela escandaliza-se com o pedido para que tire a roupa, como se não fosse normal que modelos expusessem seus corpos. Mais afobado que no primeiro filme, o diretor vai com muita sede ao pote e entrega o jogo rápido demais, prescindindo do suspense que justifica essas produções. Monroe tenta redimir-se com o público voltando a lançar mão dos expedientes bestiais usados por Jennifer, e Katie também aplica aqueles métodos impublicáveis em sua vendeta — Monroe, Elman e Fenton parecem ter uma fixação qualquer com canos de espingarda e traseiros masculinos. Tudo isso contraposto à beleza angelical de Jemma Dallender não deixa de ser uma saborosa ironia.
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