Homens comuns enfrentam situações que demandam-lhes uma dose generosa de alheamento. Por estarem sempre se cercando de todos os cuidados para que nada fuja ao esperado, no momento em que se veem diante de uma grande reviravolta do destino, ainda que tudo possa tornar ao ponto inicial não muito tempo depois, nunca se perdem de si mesmos e acabam optando pela cautela, o que, em dadas circunstâncias, acaba sendo uma maldição.
Se o zênite da carreira cinematográfica de um ator é viver um super-herói, Gabriel Basso não tem do que reclamar. Peter Sutherland, o protagonista de “O Agente Noturno”, é uma mistura muito bem-dosada do americano tranquilo com um sujeito cujas habilidades especiais para a investigação fazem-no verdadeiramente indispensável. Na segunda temporada da série criada por Matthew Quirk e Shawn Ryan, que acaba de estrear na Netflix, Peter mostra que continua sendo pau para toda obra, mas parece disposto a mostrar um lado sombrio que começava a pesar-lhe um tanto.
Ao tentar compreender o que se passa no espírito de cada indivíduo, valorizando justamente o caráter de especificidade, em que cada um é responsável por suas próprias decisões, pelo caminho que decide trilhar — que por tortuoso que seja, pode conduzir a algum lugar de proveito —, por seus tropeços e suas glórias, a filosofia se organiza a fim de dar à vida uma ideia de que tudo converge para um mesmo fim, de que o tal sentido da vida consiste em extrair do mundo, da interação com os outros e, por óbvio, de como processamos essas informações à luz da nossa própria visão acerca da existência, a matéria-prima para seguir nossa jornada do modo menos traumático possível, para nós mesmos e para os outros.
Peter está nesse momento filosófico, reflexivo a seu modo, depois de ter salvo passageiros de um trem neutralizando uma bomba. Quirk e Ryan voltam a esse e a alguns episódios da primeira parte da série, da maneira mais sucinta que podem, para sugerir possíveis transformações na índole de seu antimocinho, capaz de construir um explosivo com o ácido sulfúrico e o etanol que encontra num carrinho de limpeza de hotel (?!) enquanto um tal Solomon também rouba a cena. Basso equilibra-se entre o que o público espera do protagonista e o que os roteiristas querem fazer dele, dando a entender que seus dias no FBI estejam contados na próxima terceira temporada.
Série: O Agente Noturno — 2ª temporada
Criação: Matthew Quirk e Shawn Ryan
Anos: 2023-2025
Gêneros: Thriller/Suspense/Aventura
Nota: 8/10