Obra-prima considerada uma das 150 maiores obras da história do cinema, filme inspirado no kubrickiano “Glória Feita de Sangue” está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Obra-prima considerada uma das 150 maiores obras da história do cinema, filme inspirado no kubrickiano “Glória Feita de Sangue” está na Netflix

Lançado em 2019 sob a direção de Sam Mendes, “1917” transporta o espectador para o coração da Primeira Guerra Mundial, apresentando uma narrativa intensa e visualmente revolucionária. A história acompanha os cabos britânicos Blake e Schofield em uma missão desesperada para atravessar territórios devastados e entregar uma mensagem crucial. Sem rádio ou suporte direto, os jovens enfrentam perigos constantes para evitar que um regimento inteiro caia em uma emboscada letal, engenhosamente planejada pelos alemães.  

Ao longo do caminho, a brutalidade do conflito é escancarada: trincheiras enlameadas, cadáveres abandonados e emboscadas que desafiam a coragem e o instinto de sobrevivência. Essa ambientação não é apenas um pano de fundo, mas um protagonista silencioso que reforça o desespero e a vulnerabilidade dos soldados. Cada passo da jornada é impregnado de tensão, com a tarefa assumindo proporções quase impossíveis à medida que os obstáculos se multiplicam.  

O grande diferencial de “1917” está na sua abordagem técnica magistral. O filme simula um plano-sequência contínuo, criando uma experiência visceral que mantém o público imerso no desenrolar da trama. Sob a direção de fotografia de Roger Deakins, cada movimento de câmera é calculado para capturar tanto a grandiosidade quanto a intimidade do conflito. Essa técnica não só amplifica a sensação de urgência como também posiciona o espectador lado a lado com os protagonistas, vivendo o horror da guerra de forma quase palpável.  

O design de produção, comandado por Dennis Gassner, é outro triunfo. Com cenários construídos nos mínimos detalhes, o filme recria quilômetros de trincheiras, vilarejos destruídos e paisagens devastadas que ecoam a desolação da época. As cenas de ação, coreografadas com precisão quase cirúrgica, combinam-se à fluidez da câmera para criar uma atmosfera de caos e vulnerabilidade, destacando a fragilidade humana em um ambiente de destruição absoluta.  

Porém, apesar de seu impacto visual, “1917” enfrenta limitações no desenvolvimento emocional de seus personagens. Embora a missão central carregue um peso significativo, a conexão do público com Blake e Schofield é superficial, em comparação a filmes como “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg, que mergulham profundamente nas emoções e dilemas pessoais dos soldados. Essa distância emocional dificulta que o espectador se envolva plenamente com os protagonistas, reduzindo o impacto dramático da narrativa.  

Ainda assim, o filme encontra uma profundidade simbólica em sua ligação histórica. Inspirado nas memórias do avô de Mendes, que atuou como mensageiro na Primeira Guerra, “1917” presta homenagem aos sacrifícios anônimos dos combatentes, resgatando a dimensão humana de um conflito devastador. Essa conexão pessoal adiciona uma camada de autenticidade e reverência à obra, mesmo que não explore totalmente as complexidades individuais dos personagens.  

“1917” é uma obra-prima técnica que redefine o cinema de guerra. Embora falhe em estabelecer uma ligação emocional mais profunda, sua direção audaciosa, fotografia impecável e ambientação meticulosa oferecem uma experiência cinematográfica imersiva e impactante. Como tributo à coragem dos soldados e registro de suas histórias, o filme se consolida como um marco no gênero, desafiando limites e reafirmando a força do cinema como meio de perpetuar memórias e honrar sacrifícios.

Filme: 1917
Diretor: Sam Mendes
Ano: 2021
Gênero: Guerra
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★