O suspense, que ficou 121 dias no Top 10 de streaming mundial, chega ao Prime Video e já é o filme mais visto da atualidade Divulgação / Amazon MGM Studios

O suspense, que ficou 121 dias no Top 10 de streaming mundial, chega ao Prime Video e já é o filme mais visto da atualidade

O trágico, o cômico e o sensual caminham lado a lado em “Pisque Duas Vezes”. A estreia na direção de Zoë Kravitz quer abraçar muitos temas relevantes ao mesmo tempo ao passo que sempre deixa no ar a sensação de que essa irrequietude não se sustenta senão por força de diálogos engraçadinhos, até mesmo histriônicos, maldição que ronda 99,99% das produções congêneres. Kravitz, justiça se lhe faça, escolheu um terreno pantanoso no qual lançar suas primeiras sementes como criadora. Entretanto, há muitas cascas de banana que seu roteiro, escrito com E.T. Feigenbaum, poderia ter evitado se quisesse um efeito mais natural — ainda que esta jamais pareça ter sido sua intenção e gere uma nova dificuldade.

Na primeira sequência de “Pisque Duas Vezes”, a garçonete Frida arruma-se para mais uma noite de trabalho com colegas como Jess, uma garota muito mais descolada. As duas vão servir na mansão de Slater King, o proprietário e diretor-executivo de uma big tech, e pelo que se assiste depois, a moça sonhava com a chance há algum tempo. No meio da festa, elas trocam o uniforme por vestidos coloridos e decotados — em meio a um mar de tubinhos pretos bastante sóbrios — e vão para cima de Slater, ou melhor, Frida o faz. Elas improvisam uma entrada triunfal no salão, Jess ensinando uma inusitada técnica para ajudar a amiga a andar em saltos altos na cena mais divertida do longa, até que o inevitável acontece e Frida estatela-se no chão.

O que vem no bojo é acintosamente previsível, malgrado o duo de protagonistas dê o sangue no esforço de capturar o interesse da audiência. Slater, claro, ampara Frida, os dois começam um flerte à primeira vista sem grandes pretensões de parte a parte, e, quando menos se espera, ela está aboletada na ilha particular do ricaço. Kravitz é competente em elaborar os tipos exóticos, levianos e malfazejos a orbitar em torno de Slater, ele próprio a encarnação do bilionário presunçoso e hipócrita, que achega-se do proletariado para saciar apetites que vão bem mais longe que o sexual. 

A blague dita por Jess sobre piscar duas vezes depois que ouve um comentário do psicanalista de Slater no coquetel dias antes começa a fazer sentido, e aos poucos o filme vai desaguando no terror psicológico que prometia, com Naomi Ackie e Alia Shawkat bem afinadas, adjetivo que não se aplica para Channing Tatum. A tentativa de expor a violência sexual sofrida por Frida esvai-se em meio à opção de manter em cena os muitos coadjuvantes, a ponto de desperdiçar Ackie e Shawkat em vários momentos, o verdadeiro pecado mortal aqui.

Filme: Pisque Duas Vezes
Diretor: Zoë Kravitz
Ano: 2024
Gênero: Suspense/Thriller
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.