Atuação tão extraordinária de Ethan Hawke que vai te convencer a odiá-lo, em filme brutal e demoníaco, na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Atuação tão extraordinária de Ethan Hawke que vai te convencer a odiá-lo, em filme brutal e demoníaco, na Netflix

Assassinos em série não conhecem fronteiras, mas o fascínio peculiar que os Estados Unidos exercem como um palco para tais tragédias não é acidental. A fusão de uma cultura armamentista profundamente enraizada, disparidades sociais alarmantes e o eco incessante de preconceitos como racismo, misoginia e homofobia cria um ambiente onde a violência parece inevitável. Acrescente a isso o peso insuportável do “Sonho Americano”, a negligência social e os ciclos de abuso doméstico, e temos um terreno fértil para histórias de brutalidade e desespero. É nesse universo implacável que “O Telefone Preto” constrói sua narrativa, levando o público para a sombria Denver dos anos 1970, um lugar onde os perigos rondam tanto dentro de casa quanto nas ruas.  

No coração dessa história está Finney Shaw, um garoto de 13 anos cujas circunstâncias revelam as fissuras da sobrevivência juvenil em um mundo hostil. Órfão de mãe, ele vive com o pai, um homem alcoólatra e violento, e sua irmã Gwen, cuja sensibilidade psíquica é ao mesmo tempo um fardo e um dom. A vida da família, marcada por dificuldades financeiras e emocionais, reflete a precariedade de seu pequeno lar. Para Finney, a escola não é um refúgio, mas um campo de batalha: vítima frequente de agressões, sua autoestima é fragmentada pelas investidas de valentões. Sua única âncora é Robin, um colega destemido que enfrenta os agressores com coragem. Contudo, a frágil segurança que essa amizade proporciona é destruída por um mal ainda mais ameaçador: o “Sequestrador”, um assassino em série que aterroriza a comunidade, deixando balões pretos como assinatura macabra de seus crimes.  

Quando Robin desaparece, o medo se transforma em pavor, e a tragédia torna-se pessoal. Logo depois, Finney também é capturado, despertando em um porão sombrio, vazio, com apenas um colchão desgastado e um telefone preto desconectado como companhia. Porém, o aparelho guarda um mistério aterrorizante: através dele, Finney começa a receber ligações das vítimas anteriores do assassino. Essas vozes, ecoando de um além sombrio, oferecem conselhos para que o garoto consiga escapar, transformando o telefone em um elo improvável entre a vida e a morte. Paralelamente, Gwen, impulsionada por suas visões perturbadoras, tenta ajudar a polícia a localizar o irmão antes que seja tarde demais.  

A narrativa de “O Telefone Preto” entrelaça o sobrenatural e o real em um jogo de sobrevivência, compondo um quadro de tensão e desespero. Além do horror palpável, o filme escancara as cicatrizes deixadas pela violência — seja doméstica, escolar ou estrutural — e questiona como essas experiências moldam ou destroem almas jovens. No cerne da trama, encontra-se um protagonista que descobre, em meio ao terror, uma força desconhecida e surpreendente.  

Com performances envolventes e uma direção meticulosa, o filme se torna uma experiência visceral, onde cada decisão carrega o peso das escolhas e suas consequências. Ao navegar entre o medo e a esperança, “O Telefone Preto” é uma lembrança de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a conexão humana — ainda que transcenda a barreira entre vida e morte — pode ser a chave para a redenção.  

Filme: O Telefone Preto
Diretor: Scott Derrickson
Ano: 2022
Gênero: Fantasia/Terror
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★