Baseado em uma história real, o filme na Netflix que vai acalmar seu espírito, elevar sua alma e te fazer acreditar em milagres Divulgação / Columbia Pictures

Baseado em uma história real, o filme na Netflix que vai acalmar seu espírito, elevar sua alma e te fazer acreditar em milagres

Entre os inesperados roteiros que desafiam a lógica convencional de Hollywood, poucos se comparam à trajetória real de Stuart Long. De pugilista a aspirante a ator, ele enfrenta uma reviravolta ainda mais drástica: a decisão de se tornar sacerdote. “Luta pela Fé — A História do Padre Stu” explora essa curva improvável da vida, articulando-se em torno de desafios pessoais e espirituais. Sob a direção de Rosalind Ross e ancorado na atuação de Mark Wahlberg, o filme tenta equilibrar drama intenso e momentos reflexivos, mas tropeça em sua execução.

Stu cresce sob a sombra de um pai abusivo e uma infância emocionalmente árida no interior de Montana. O boxe, inicialmente um refúgio, transforma-se em obsessão, até que lesões recorrentes obrigam-no a buscar novos caminhos. Hollywood surge como promessa de reinvenção, mas revela-se um campo de batalhas igualmente impiedoso. É quando Carmen, uma mulher profundamente enraizada na fé católica, desperta nele interesses que vão além da conquista amorosa. Após um acidente quase fatal, Stu encontra na religiosidade uma força inesperada, decidindo abraçar o sacerdócio. A narrativa, entretanto, hesita ao explorar as complexidades dessa transformação.

Embora a premissa de que eventos traumáticos podem catalisar mudanças profundas seja promissora, a abordagem do filme peca pela superficialidade em momentos cruciais. O roteiro opta por uma série de episódios dramáticos e marcantes, mas falha em aprofundar as nuances emocionais que tornam a jornada de Stu verdadeiramente envolvente. Cenas potencialmente impactantes, como sua visita a uma prisão, acabam breves demais, deixando de transmitir a intensidade do processo de conversão espiritual. Assim, o enredo foca mais em ilustrar os desafios de seu passado do que em expor os elementos que moldam sua fé.

Ainda assim, Wahlberg imprime carisma e vulnerabilidade ao papel, retratando um homem em busca de redenção. Mel Gibson destaca-se ao interpretar o pai de Stu, equilibrando amargura e humanidade, enquanto Teresa Ruiz, como Carmen, projeta serenidade, embora sua relevância na trama seja subaproveitada. Malcolm McDowell, no papel do monsenhor, tinha potencial para enriquecer a história, mas sua presença não explora suficientemente os dilemas de aceitar um seminarista tão fora do convencional.

No plano técnico, a direção de fotografia investe no realismo, com uso de cores sóbrias e câmeras portáteis que reforçam a crueza dos ambientes. A trilha sonora, com referências ao country e ao blues, confere um tom melancólico, ainda que ocasionalmente repetitivo. Contudo, o filme não aproveita integralmente esses elementos para criar uma atmosfera mais introspectiva. O enfoque em momentos de impacto acaba relegando as reflexões mais densas a um segundo plano.

A abordagem do diagnóstico degenerativo de Stu ilustra esse desequilíbrio. Embora represente um ponto crucial na narrativa, a gravidade do tema é explorada de forma breve e sem a profundidade necessária para envolver emocionalmente o espectador. Em vez de proporcionar uma imersão mais plena no sofrimento e na fé do protagonista, o roteiro opta por uma narrativa acelerada, que pouco permite a digestão desses temas.

Apesar das limitações, o longa ganha mérito ao evitar um retrato idealizado de Stu. A sinceridade com que mostra suas falhas e lutas contínuas oferece ao público a oportunidade de refletir sobre como os tropeços, por mais dolorosos, podem ser trampolins para transformações legítimas. A espiritualidade, nesse contexto, não surge como solução mágica, mas como um caminho de ressignificação do passado.

No geral, “Luta pela Fé — A História do Padre Stu” cativa mais pela força de seus intérpretes e pelo fascínio da história real do que pelo equilíbrio de sua narrativa. O filme não atinge a profundidade que promete, mas mantém um grau de atratividade para aqueles que se interessam por dilemas existenciais e pelas complexidades do autoconhecimento. Sua mensagem de perseverança é valiosa, ainda que apresente lacunas em sua construção dramática.

Filme: Luta pela Fé — A História do Padre Stu
Diretor: Rosalind Ross
Ano: 2022
Gênero: Biografia/Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★