Desligue o cérebro, não precisa pensar, só sobreviver: a Netflix entrega ação crua e eletrizante até o último segundo Divulgação / RLJ Entertainment

Desligue o cérebro, não precisa pensar, só sobreviver: a Netflix entrega ação crua e eletrizante até o último segundo

Tempos extremos despertam reflexões inquietantes. A ideia do fim do mundo exerce um fascínio peculiar, atraindo tanto pela catástrofe quanto pelo desejo de compreender o que nos define enquanto humanidade. Entre os cenários que evocam essa decadência, Nova York emerge como símbolo universal. Em “Bushwick”, os diretores Jonathan Milott e Cary Murnion exploram essa premissa com precisão cirúrgica, ambientando o caos em uma das áreas mais desafiadoras do Brooklyn. O bairro, conhecido por suas tensões sociais, é transformado em palco de um conflito visceral quando helicópteros das Forças Armadas desencadeiam bombardeios inesperados, enquanto os moradores, com poucos recursos, resistem como podem. O roteiro, assinado por Nick Damici e Graham Reznick, não se esquiva de apontar fragilidades na democracia americana, mesmo que nem todas as questões sejam devidamente aprofundadas.

A narrativa inicia-se com um casal de namorados deixando o metrô e trocando provocações casuais, quando um aviso inesperado nos alto-falantes insta os passageiros a evacuarem o local. Enquanto Lucy se mantém aparentemente serena, José demonstra insegurança, até que o absurdo irrompe na forma de um homem em chamas cruzando o caminho. A sequência os conduz à superfície, onde o caos assume proporções fatais: José, desorientado, é rapidamente eliminado. O absurdo permeia cada etapa do enredo, e os diretores, longe de suavizá-lo, abraçam a incoerência como eixo central. Lucy, interpretada por Brittany Snow, encontra refúgio em um porão após ser perseguida, onde é salva por Stupe, um ex-militar interpretado por Dave Bautista, cuja presença imponente e estoica contrasta com o cenário fragmentado.

O restante do filme acompanha Lucy e Stupe enquanto percorrem as ruas devastadas, enfrentando perigos a cada passo. O caos crescente se torna um reflexo inquietante de nossa realidade, remetendo a um sentimento paradoxal de conforto e desconforto frente à desordem. As atuações de Snow e Bautista encarnam a tensão latente, transitando entre a vulnerabilidade e a força. Em meio à violência e ao nonsense, há espaço até para um humor sardônico, como a referência a Hoboken, que se contrapõe à gravidade da narrativa. Assim, “Bushwick” não apenas aponta para os pés de barro de um sistema corroído, mas também convida o público a refletir sobre o peso das escolhas em cenários extremos. Talvez a verdadeira mensagem resida no convite a pausar e escutar a voz de Sinatra em meio ao tumulto.

Filme: Bushwick
Diretor: Jonathan Milott e Cary Murnion
Ano: 2017
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★