Para cada indivíduo perdido em sua dor, pode haver um cão enviado como companhia inesperada. Inspirado pela epígrafe de Alphonse de Lamartine, “Dogman” explora as complexidades da solidão contemporânea, costurando a história de um homem moldado por uma infância brutal e por escolhas de vida incomuns. Sob a direção de Luc Besson, Caleb Landry Jones personifica Douglas Munrow, um jovem sobrevivente de abusos familiares que encontra nos cães seus únicos aliados e, eventualmente, cúmplices em uma jornada que desafia convenções morais e sociais. Com sua performance multifacetada, Jones traduz a psique instável de Doug, um homem que equilibra momentos de patética vulnerabilidade com ataques estratégicos e letais, mesmo que, no final, prejudique a si próprio mais do que a qualquer outro.
A narrativa começa com um retrato vívido da infância de Doug: em meio a um jantar caótico, seu pai, vivido por Clemens Schick, o confronta sobre sua dedicação aos cães de briga, que supera qualquer afeto pela família. O conflito atinge o ápice quando Doug é punido por alimentar os animais antes das lutas, comprometendo o sustento dos Munrow. Arremessado ao canil, o menino vive dias de sofrimento até ser resgatado por sua mãe, que, sem olhar para trás, abandona a família. Essa introdução estabelece as bases para os eventos que se desenrolam quando Doug, já adulto, é capturado com um caminhão repleto de setenta cães, encarcerado em um manicômio judiciário, onde conhece a psiquiatra Evelyn Decker.
Ao longo de sua duração, “Dogman” revela, através de flashbacks, mais peças que compõem o quebra-cabeça trágico da vida de Doug. Suas apresentações performáticas como transformista, encarnando Édith Piaf em um espetáculo tragicômico, intensificam a aura de desespero e genialidade que envolve o protagonista. Besson revisita elementos temáticos de “O Profissional”, conectando figuras improváveis: Doug e Evelyn, interpretada com maestria por Jojo T. Gibbs, formam uma parceria marcada por dor, cumplicidade e estranheza. Mesmo com o peso de uma narrativa mergulhada em trevas e comentários antirreligiosos, o longa é iluminado pelas relações que emergem entre Doug e seus “cãezinhos delinquentes”, garantindo uma experiência tão instigante quanto desafiadora.
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