Pelo que se assiste em “Besouro Azul”, o imperialismo está com os dias contados. Incansável, o filme, sobre um super-herói mexicano-americano que, corajoso, primeiro enfrenta de cara limpa uma demissão injusta para depois mergulhar fundo no combate a uma megacorporação responsável pelo suprimento bélico de guerras ao redor do mundo. Por óbvio, o trabalho do diretor Angel Manuel Soto não fica apenas no ramerrão pseudopolítico e preenche os 127 minutos com um carrossel de cor, brilho e movimento, no qual desfilam sequências e mais sequências de lutas, uma tentativa de romance e um imenso escaravelho metálico a atacar tropas de cruéis dominadores.
O Besouro Azul ganhou as páginas das revistas em quadrinhos em 1939, mas foi o longa de Soto que conseguiu capturar de vez o interesse de públicos diversos no idealista Jaime Reyes, o garoto chicano criado por Keith Giffen (1952-2023), John Rogers e Cully Hamner, perdido em algum lugar de Palmera City, a cidade fictícia na fronteira entre o México e os Estados Unidos, muito parecida com um bairro pobre qualquer de Los Angeles.
Jaime volta para casa depois de terminar a faculdade, é recebido pelos pais, Alberto e Rocío; a irmã, Milagro; o tio, Rudy; e pela avó, Nana, e o acúmulo de personagem logo nas primeiras cenas de “Besouro Azul” não é por acaso. O roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer nunca deixa de bater na tecla da união familiar entre os latinos e de sua exagerada afeição à cultura pop supostamente autóctone, dando força a estereótipos tolos e apostando na memeificação. Uma prova da estratégia é polvilhar referências à novela “Maria do Bairro” (1995), adaptada do texto de Inés Rodena (1905-1985), cubana radicada em Miami, e levada ao ar pela Televisa, e ao humorístico “Chapolin” (1973-1978), no Canal de las Estrellas, criado, escrito, dirigido e protagonizado por Roberto Gómez Bolaños (1929-2014).
Quando começa, enfim, a compreender que um diploma não é garantia de felicidade e tampouco de êxito profissional, está trabalhando como ajudante no complexo hoteleiro dos Kord, usado como fachada para negócios bem menos aparentes e muito mais rentáveis. Soto mantém o ritmo quase frenético e continua a apresentar os outros tipos que compõem sua história, oferecendo ampla cobertura aos respiros cômicos, às vezes escatológicos, mas também apurados e genuínos, de Belissa Escobedo na pele de Milagro, e a uma mocinha que brasileiros conhecemos bem.
Sem bairrismo, Bruna Marquezine é uma das poucas coisas a justificar um filme como esse. Sua Jennifer Kord é a verdadeira heroína aqui, salvando o romântico Jaime quando ele a defende de Carapax, o capanga de Victoria, a tia má que quer vê-la longe dos negócios, ignorando que Jenny é uma das acionistas. Susan Sarandon vai e vem, um tanto deslocada no andamento da narrativa, o que, lamentavelmente, acontece a outros atores veteranos como Damián Alcázar e a célebre Adriana Barraza.
A abuela de Jaime só não passa batida de todo porque volta no princípio do terceiro ato manejando com destreza uma arma multissensorial, habilidade que adquiriu, é possível concluir, em alguma guerrilha na América Central. Melhor mesmo é apreender “Besouro Azul” como uma canção de Renato Russo (1960-1994) ou Ritchie Valens (1941-1959) vertida num arrasa-quarteirão buliçoso, com Marquezine e Xolo Maridueña num flerte prestes a incendiar a tela. Pena que demora tanto.
★★★★★★★★★★