A série que foi assistida mais de 20 milhões de vezes na primeira semana de 2025 Divulgação / Netflix

A série que foi assistida mais de 20 milhões de vezes na primeira semana de 2025

A história de Alexandre, o Grande, e sua solução para o nó górdio traduz a essência de “Missing You”, a mais recente adaptação de Harlan Coben para a Netflix. O lendário enigma, célebre por sua complexidade, foi resolvido de forma inesperada: Alexandre cortou o nó com sua espada. De maneira semelhante, Coben constrói tramas intricadas e carregadas de mistérios, mas opta por resoluções diretas que não deixam o público à deriva. Este décimo capítulo do contrato de 14 obras entre o autor e a plataforma reafirma sua assinatura: unir suspense e entretenimento em uma experiência acessível e envolvente.

No coração da narrativa está Kat Donovan, vivida por Rosalind Eleazar, uma detetive determinada, mas marcada por feridas emocionais. A morte de seu pai, Clint (Lenny Henry), um respeitado policial assassinado pelo matador de aluguel Monte (Marc Warren), e o desaparecimento misterioso de seu noivo Josh (Ashley Walters) 11 anos atrás são episódios que ainda a assombram. Sua vida aparentemente controlada é sacudida quando Monte reaparece, à beira da morte, e Josh surge inesperadamente em um aplicativo de namoro. Esses reencontros forçam Kat a confrontar um emaranhado de segredos que testará tanto sua competência profissional quanto sua resiliência pessoal.

“Missing You” segue a consagrada fórmula de Coben: ritmo ágil, mistérios intrigantes, personagens carismáticos e coincidências ousadas. Na adaptação, a trama migra de Nova York para o Reino Unido, conferindo um toque mais sombrio à narrativa. Rosalind Eleazar entrega uma performance magnética, explorando com maestria as nuances de Kat, enquanto Steve Pemberton se destaca como Titus, um vilão perturbador que imprime tensão em cada cena. James Nesbitt retorna ao “Universo Coben” como o enigmático Calligan, chefe do crime organizado, e a produção ainda conta com participações marcantes, como as do baixista Matt Willis e da TikToker GK Barry. Jessica Plummer, no papel de Stacey, adiciona dinamismo à trama, mesmo que sua personagem exiba uma habilidade investigativa que desafia a lógica.

Sob a escrita de Victoria Asare-Archer, o roteiro mantém o padrão das produções anteriores, mesclando diálogos explicativos e momentos de melodrama. Embora os episódios iniciais apresentem uma narrativa repetitiva e frases pouco sutis — como “Você desligou o amor como se fosse um crime de ódio” —, a partir do terceiro capítulo, a história ganha fôlego e entrega os elementos que consagraram Coben: reviravoltas inesperadas, traições impactantes e segredos revelados no momento certo.

O cenário britânico confere à série uma atmosfera mais crua e realista, contrastando com os momentos de dramatização que caracterizam as adaptações do autor. Rosalind Eleazar é a força motriz da trama, equilibrando força e vulnerabilidade em uma interpretação cativante. Steve Pemberton, por sua vez, constrói um antagonista memorável, cuja presença ameaçadora eleva a tensão do enredo.

Sem pretensão de reinventar o gênero, “Missing You” é um produto pensado para a era do consumo rápido. Sua narrativa é estruturada para manter o espectador fisgado, oferecendo reviravoltas frequentes e momentos de impacto. Embora isso evidencie certa superficialidade nas soluções narrativas e uma dependência de coincidências convenientes, também garante uma experiência envolvente e descomplicada.

Assim como Alexandre desfez o nó górdio com pragmatismo, “Missing You” resolve seus dilemas narrativos com precisão. Não é uma obra-prima, mas cumpre com excelência seu propósito de entreter. A série se revela uma escolha perfeita para quem busca uma narrativa cativante e despretensiosa, ideal para momentos de relaxamento. É nessa simplicidade eficaz que reside o charme desta adaptação, um convite irresistível para mergulhar no suspense e aproveitar o espetáculo.


Série: Missing You
Direção: Sean Spencer, Isher Sahota e Nimer Rashed
Ano: 2025
Gênero: Drama/Crime/Thriller
Nota: 8/10