Há mais de quatro décadas, Danny Collins carrega o brilho inconfundível de uma lenda do rock. Em 30 de junho de 1971, ao assinar seu primeiro contrato com uma gravadora poderosa, era apenas um jovem inseguro, talvez confrontando a sensatez que, em sua juventude, soava como uma anomalia. O tempo, porém, trouxe-lhe a confiança necessária para dominar as paradas musicais por semanas consecutivas, consolidando uma carreira estável, longe das oscilações que frequentemente abalam até os mais talentosos. Ainda assim, o caminho de Danny foi pavimentado por excessos: litros de uísque, transações incessantes com traficantes, e um desfile interminável de mulheres atraídas não por um romântico nato, mas por um astro que irradiava poder e hedonismo.
O maior trunfo de “Não Olhe para Trás” é desconstruir o mito de que celebridades são seres extraordinários, além da compreensão humana. Na realidade, esses indivíduos frequentemente são envoltos em uma bolha de privilégios que os convence de sua própria invencibilidade — uma ilusão sustentada pelo dinheiro, capaz de assegurar conforto por gerações. Baseado em uma história real — ou algo próximo disso, conforme anuncia o prólogo —, Dan Fogelman mergulha nos recantos mais sombrios de um astro cuja vida, repleta de luxo, se revela inesperadamente vazia. Essa jornada introspectiva é catalisada por uma carta esquecida, escrita por um ícone musical de filosofia diametralmente oposta à de Danny. Autor de roteiros como “Amor a Toda Prova” (2011) e “Enrolados” (2010), Fogelman recorre a clichês eficazes para reforçar a ideia de que qualquer pessoa pode reavaliar seu rumo e buscar redenção, sem que isso implique uma transformação abrupta em santidade.
Dominar o mundo exige sacrifícios. Cada ser humano é um universo único, carregando ideias, desejos, necessidades e sonhos, muitos dos quais permanecem inalcançáveis. Essa tensão entre o visível e o invisível molda a identidade de cada um, e todos, em maior ou menor grau, enfrentam suas fraquezas cotidianas. Conviver com essas limitações é um desafio constante, uma tentativa de encontrar beleza em meio às dificuldades da vida. Muitas vezes, essa beleza se manifesta de formas inesperadas, transformando o que parece insignificante ou dramático em algo profundamente significativo. Danny, com sua irreverência e indomabilidade, é a encarnação desse paradoxo: um fauno que desafia convenções, mas que, no fundo, busca sentido para sua existência.
Entre os poucos que conseguem abalar a aparente infalibilidade de Danny está Frank Grubman, seu agente, vivido por Christopher Plummer. A dinâmica entre os dois personagens é um dos pontos altos do filme, com Fogelman explorando a química entre Al Pacino e Plummer para alternar momentos de serenidade e caos. No entanto, é uma carta escrita por John Lennon que verdadeiramente desafia Danny a reconsiderar suas escolhas. Ignorada por décadas, a mensagem do lendário músico se torna o catalisador para que Danny procure Tom Donnelly, seu filho afastado. Interpretado por Bobby Cannavale, Tom representa um contraponto absoluto ao pai: um homem comum, atolado em dívidas, com uma esposa grávida e enfrentando o fantasma de uma doença terminal.
A partir desse reencontro, “Não Olhe para Trás” adota um tom melodramático que, longe de parecer forçado, é sustentado pela atuação magistral de Cannavale e Pacino. A trama ganha profundidade ao explorar as tragédias cotidianas de Tom e os esforços de Danny para reconstruir uma relação perdida. Essa combinação de performances excepcionais, roteiro envolvente e direção sensível transforma o filme em uma reflexão tocante sobre redenção, amor e os limites da autotransformação.
★★★★★★★★★★