Amor e tragédia costumam dançar em compasso, e é a intensidade do sentimento que frequentemente desafia o caos do destino. Quando dois mundos tão distintos quanto indivíduos se encontram, a união pode gerar um elo eterno — ou um abismo inevitável. O poeta Vinicius de Moraes, em seu “Soneto de Fidelidade”, traduziu essa efemeridade ao afirmar que o amor, embora finito, pode ser infinito enquanto dure. Da mesma forma, Fernando Pessoa reflete sobre a tolice inerente ao amor, destacando sua beleza absurda.
No entanto, não é tragédia que guia “Através da Minha Janela” (2022). O longa de Marçal Forés segue a esteira de produções juvenis como “A Barraca do Beijo” (2018), explorando a paixão improvável entre vizinhos unidos pela senha de Wi-Fi. Mas a simplicidade da premissa rapidamente revela um roteiro frágil, com sequências que deixam a desejar. A janela, ponto que deveria ser central, é negligenciada em uma trama que promete mais do que entrega.
Baseado na obra popular de Ariana Godoy, o filme tenta dialogar com sonhos adolescentes: amor idealizado, riqueza e sucesso instantâneos. Contudo, esbarra em incoerências, como a disparidade social entre Raquel, de classe média baixa, e Ares, um jovem milionário. A conexão entre os dois é forçada, assim como a justificativa do Wi-Fi, que parece mais uma conveniência narrativa do que um elemento orgânico. Para um romance juvenil, o longa falha em construir situações críveis e emocionantes.
A ausência de cenas emblemáticas — como o clássico vislumbre romântico pela janela — destaca a fragilidade da direção e do roteiro. Galle e Peña até têm química, mas não conseguem sustentar uma narrativa repleta de clichês previsíveis. Personagens secundários, como Yoshi, interpretado por Guillermo Lasheras, trazem algum alívio, mas são subaproveitados em arcos pouco desenvolvidos. O retrato da juventude é, no melhor dos casos, superficial.
Com cortes elegantes, o filme evita apelos exagerados em cenas de intimidade, mas a sutileza não compensa a falta de profundidade. Enquanto o gênero juvenil permite certa leveza, a obra exagera na repetição de estereótipos, oferecendo um conteúdo que mais ecoa fórmulas batidas do que cria algo inovador. A duração, que ultrapassa o razoável para sua proposta, ainda piora a experiência.
Por fim, “Através da Minha Janela” é um retrato de aspirações adolescentes embalado em lugares-comuns. Embora encontre seu público em leitores da obra original, falha em transcender para algo mais marcante. O resultado é um filme que, mesmo abordando temas universais como amor e descoberta, deixa pouco a ser lembrado após os créditos finais.
★★★★★★★★★★