O filme sobre vampiros mais assistido da história da Netflix: prepare-se, pois seu coração vai querer saltar da boca Divulgação / Netflix

O filme sobre vampiros mais assistido da história da Netflix: prepare-se, pois seu coração vai querer saltar da boca

Pode-se apontar falhas em “Céu Vermelho-Sangue” (2021), mas não há como negar a coragem da proposta de Peter Thorwarth. O filme mistura referências improváveis, como o terror visceral de “Hellraiser — Renascido do Inferno” (1987), de Clive Barker, com a tensão realista de “Voo United 93” (2006), dirigido por Paul Greengrass. Em um cenário claustrofóbico, onde a violência e o sobrenatural se encontram, a produção desafia convenções ao explorar uma relação enigmática entre uma mãe e seu filho, mergulhando no abismo da condição humana. Nadja, vivida por Peri Baumeister, embarca com Elias, interpretado por Carl Anton Koch, em um voo que rapidamente se transforma em pesadelo: uma facção extremista islâmica assume o controle do avião, ameaçando a vida de todos. Contudo, o detalhe que torna essa situação singular é o segredo oculto pela figura aparentemente frágil de Nadja.

Thorwarth constrói um arco narrativo em torno da protagonista, revelando aos poucos os mistérios que envolvem sua existência. Uma vida desregrada levou Nadja a um encontro trágico com uma criatura sombria, marcando-a para sempre. Agora, dependente de um regime rigoroso de medicamentos para conter sua transformação, ela mantém seu filho alheio à verdade. Porém, o sequestro desencadeia a libertação de sua natureza monstruosa, que até então permanecia reprimida. A narrativa ganha força quando Nadja, uma vampira sanguinária, abandona suas máscaras e luta para proteger Elias, mesmo que isso signifique expor sua verdadeira identidade e enfrentar as consequências.

O diferencial de “Céu Vermelho-Sangue” é sua disposição em abraçar o absurdo e transformar a protagonista em motor da trama. A relação entre mãe e filho ganha profundidade à medida que Elias, surpreendentemente, aceita o destino da mãe com maturidade. Essa perspectiva infantil oferece frescor ao enredo, permitindo que a história flua com intensidade crescente. Peri Baumeister e Carl Anton Koch criam uma química palpável, sustentando momentos emocionantes em meio à tensão. Ao longo do filme, Farid, interpretado por Kais Setti, une-se ao duo central, formando uma aliança inesperada que transcende suas diferenças e destaca a humanidade em um cenário extremo.

Thorwarth evita abordar diretamente a dimensão política do extremismo islâmico, optando por focar nos elementos de terror e fantasia. A escolha é prudente, pois permite que o filme preserve seu tom despretensioso. A semelhança entre Nadja e Pinhead, de “Hellraiser”, é notável, mas enquanto o último personifica o mal absoluto, a vampira de Baumeister carrega a dualidade de uma mãe determinada a proteger seu filho a qualquer custo. Sua jornada é permeada por reflexões sobre os limites da redenção e os sacrifícios necessários para recomeçar, mesmo que de um ponto irreversível.

A conclusão oferece uma virada marcante, sugerindo um subtexto pós-apocalíptico que até então se mantinha discreto. Elias, separado da mãe, encontra amparo em Farid, que cumpre a promessa feita à mulher que arriscou tudo por ele. O desfecho ressoa como um eco agridoce de humanidade em meio ao caos. “Céu Vermelho-Sangue” atinge um voo mais alto do que talvez tenha pretendido, firmando-se como um exercício intrigante de reinvenção no gênero.

Filme: Céu Vermelho-Sangue
Diretor: Peter Thorwarth
Ano: 2021
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★