O filme de Dee Rees é uma obra densa que mergulha nas raízes da desigualdade racial nos Estados Unidos, traçando um arco que conecta a história ao presente. A trama faz ecoar o discurso inesquecível de Martin Luther King Jr., proferido em 1967, quando conclamava a verdadeira libertação de um povo que, por séculos, viveu sob o peso da opressão. Em seu manifesto, King denunciava as estruturas que mantinham a segregação, enquanto citava os versos de Langston Hughes, que, em 1935, clamara por uma América que nunca se concretizou.
No longa, essa narrativa histórica encontra paralelos em eventos recentes, como a execução de George Floyd, cujas imagens chocaram o mundo em 2020. Entre críticas afiadas, humor ácido e uma profunda reflexão, o filme costura diferentes momentos da luta racial americana, destacando desde a 13ª Emenda, que aboliu formalmente a escravidão em 1865, até os desafios persistentes enfrentados pela comunidade negra no século XXI.
Baseado no romance de Hillary Jordan, o filme explora as tensões entre duas famílias que simbolizam os conflitos raciais e de classe: os Jacksons, negros, e os McAllans, brancos. Ambientado no sul dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, o enredo retrata como essas duas realidades se chocam em uma convivência forçada, marcada por preconceito e ambivalência. Henry McAllan, um aristocrata falido, compra ilegalmente uma propriedade e vê-se confrontado pelo pastor Hap Jackson, que enxerga a mesma terra como dádiva divina.
No centro do embate, Pappy, o pai de Henry, é a personificação do ódio racial, alimentando conflitos que culminam em momentos de alta tensão. A narrativa de Rees, no entanto, vai além do confronto direto, abordando as nuances dos personagens e suas contradições. A terra, impregnada de simbolismo, torna-se palco de disputas que transcendem o espaço físico e ressoam até os corredores do poder, expondo as feridas abertas de uma sociedade profundamente marcada pela segregação.
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