Meryl Streep e Tommy Lee Jones te ensinam a reacender as chamas do amor quando tudo parece perdido, em romance na Netflix Barry Wetche / GHS Productions

Meryl Streep e Tommy Lee Jones te ensinam a reacender as chamas do amor quando tudo parece perdido, em romance na Netflix

O amor, frequentemente considerado a essência das relações humanas, enfrenta metamorfoses constantes para resistir à ação corrosiva do tempo. Em “Um Divã para Dois”, Kay, uma esposa dedicada, luta para manter seu casamento com Arnold, um homem preso à rotina e distante emocionalmente. O esforço, no entanto, parece unilateral, e ela começa a se questionar sobre o sentido de continuar. É nesse ponto que o diretor David Frankel insere sua narrativa, conduzindo o casal para uma jornada de autodescoberta em um território que jamais ousaram explorar. Um lugar onde o sentimento, sufocado pela monotonia, pode enfim respirar.

Frankel aposta em uma abordagem que subverte expectativas. Meryl Streep e Tommy Lee Jones, ambos gigantes do cinema, interpretam um casal cuja dinâmica aparenta frieza à primeira vista. Para equilibrar esse contraste, o diretor opta por cenas que funcionam apenas no conjunto, evitando momentos de brilho isolado. Essa escolha permite que o público enxergue nuances: os resquícios de afeto que sustentaram 32 anos de união, mesmo sem a química explícita de casais apaixonados. A aposta em um registro mais contido revela, de forma sutil, as razões que os mantiveram juntos, mesmo diante de uma convivência que os tornou quase estranhos.

O roteiro de Vanessa Taylor é eficiente ao estabelecer o tom desde a primeira cena. Kay, diante do espelho, ajeita sua camisola azul, hesitando antes de bater na porta do quarto onde Arnold se refugiou. Esse gesto aparentemente banal carrega décadas de história: Arnold dorme no quarto de hóspedes desde uma lesão na coluna sofrida enquanto pintava o quarto do filho, Brad, há mais de 20 anos. Apesar da recuperação física, ele nunca voltou ao quarto do casal, alegando desconfortos que foram sendo substituídos por desculpas cada vez mais impessoais — roncos, apneia, dispepsia. Essa distância física, porém, simboliza algo mais profundo: o abismo emocional entre os dois.

Meryl Streep brilha em um papel que explora sua versatilidade como atriz. Sua Kay é uma mulher comum, mas profundamente humana, enfrentando dilemas conjugais que ressoam com muitos espectadores. A performance de Streep ecoa personagens anteriores que também navegaram águas turbulentas do amor e da convivência, como em “As Pontes de Madison”, de Clint Eastwood, e “Simplesmente Complicado”, de Nancy Meyers. No entanto, a verdadeira revelação do filme é Tommy Lee Jones. Conhecido por interpretar tipos durões, como em “Homens de Preto”, Jones entrega uma atuação repleta de camadas. Seu Arnold, um homem endurecido pelo tempo e pela própria rigidez emocional, surpreende ao demonstrar fragilidade e insegurança. A cena em que aceita gastar quatro mil dólares em uma terapia de casais simboliza essa quebra de barreiras, marcando o início de uma transformação.

A reviravolta ocorre quando o casal chega a Hope Springs, uma cidadezinha no Maine que dá nome ao título original. Lá, encontram o terapeuta Dr. Feld, vivido por Steve Carell com uma sobriedade cativante. Carell, frequentemente associado a papéis cômicos, entrega aqui uma performance serena e centrada, equilibrando as emoções turbulentas de Kay e Arnold. Sob sua orientação, o filme alterna entre momentos cômicos e profundamente emocionantes. A dinâmica entre os três atores é o coração do longa, garantindo que a narrativa permaneça envolvente.

Frankel demonstra coragem ao inserir cenas que flertam com o desconforto, como uma tentativa desajeitada de Kay de reacender a chama em um cinema, resultando em constrangimento tanto para os personagens quanto para o público. Esses momentos, embora arriscados, conferem autenticidade à história, reforçando a vulnerabilidade dos protagonistas. O diretor conduz o enredo com habilidade até um desfecho que, apesar de simples, é carregado de significado. A reconciliação final do casal, em uma sequência visualmente bela, encapsula a mensagem principal: o casamento é uma aposta imprevisível, mas aqueles que se dedicam com sinceridade podem encontrar, no final, o verdadeiro prêmio.

Com um olhar sensível e atuações memoráveis, “Um Divã para Dois” não se apresenta como uma obra-prima, mas conquista ao explorar, com honestidade, os altos e baixos de um relacionamento de longa data.

Filme: Um Divã Para Dois
Diretor: David Frankel
Ano: 2012
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★