Há momentos em que o cinema se permite rir de si mesmo, desconstruindo convenções e reformulando suas próprias regras. “Encontro Explosivo” é um exemplo de narrativa que se recusa a seguir o previsível, e James Mangold, experiente em revirar padrões, entrega um filme onde os personagens ganham camadas inesperadas. Assim como em “Ford vs Ferrari” (2019) ou “Garota, Interrompida” (1999), o diretor explora as sutilezas humanas, criando cenas que transcendem o momento e deixam marcas duradouras, seja pelo brilhantismo dos diálogos ou pela mágica que ressoa na memória.
Neste longa, Mangold abandona qualquer pretensão de solenidade e aposta no espontâneo, explorando o inusitado que o roteiro de Patrick O’Neill propõe. Logo no início, o público é fisgado pelo caos bem-humorado que conduz a história de Roy Miller e June Havens, interpretados por Tom Cruise e Cameron Diaz, um casal improvável que se encontra por acaso no aeroporto de Kansas, cada um com suas prioridades e urgências. Ela está a caminho do casamento da irmã mais nova, enquanto ele parece viver à margem, um homem de aparência charmosa, mas com um ar misterioso.
O enredo ganha corpo à medida que revelações são feitas. Uma breve, mas marcante participação de Viola Davis como uma agente do FBI sugere segredos sobre a identidade de Roy, despertando curiosidade e fascínio em June. Já na sequência do avião, onde ambos se encontram, o roteiro brinca com o absurdo: enquanto ela se prepara no banheiro, ele enfrenta e elimina com destreza uma ameaça, recorrendo a habilidades que remetem a suas incursões na franquia “Missão: Impossível”. A partir daí, a trama embarca em uma sucessão de eventos cômicos e imprevisíveis.
O humor afiado de O’Neill ganha vida na condução de Mangold, especialmente nos diálogos e nas interações entre os protagonistas. Cruise e Diaz têm uma química cativante, equilibrando o nonsense com momentos de ação e charme. O elenco coadjuvante também brilha, com Paul Dano, Peter Sarsgaard e novamente Viola Davis em performances que enriquecem a narrativa. Em sua essência, o filme é um jogo de contrastes: enquanto Cruise evoca a experiência de seus papéis de ação, Diaz recupera a irreverência de comédias como “Quem Vai Ficar com Mary?” (1998), oferecendo um equilíbrio perfeito entre leveza e intensidade.
A força do filme reside no dinamismo com que Mangold mantém o público engajado, surpreendendo a cada virada de roteiro. O resultado é uma obra que, ao mesmo tempo, diverte e desafia o espectador, conduzindo-o por uma montanha-russa de emoções. Se há uma “bomba” a ser desarmada, ela está na habilidade do diretor em harmonizar o improvável com o extraordinário, transformando o que poderia ser uma simples comédia em uma experiência memorável.
★★★★★★★★★★