Antes, havia o maniqueísmo, dividindo o mundo em bons e maus. Nestes tempos atuais, isso evoluiu (ou involuiu) e surgiu o mané-queísmo, que também divide o mundo em dois. Mas, de um lado, estão os que estão certos e são “fodas” e, do outro, os manés — aqueles idiotas que estão completamente errados sobre todas as questões! O mané-queísmo dominou completamente a política mundial e até as relações sociais, valendo para os dois lados. Mas quem são os manés?
— Os manés são esses esquerdalhas comunistas!
— Os manés são esses direitistas fascistóides!
Não existe mais meio-termo. Você tem que escolher um lado: ou você é legal, ou é mané! Se lhe perguntam de que lado você está, para quem torce — se para “nós” ou para os manés — e você titubeia, pensa um pouco, demora para responder, logo vem um grito:
— Isentão!
Aí, ferrou! Quando te chamam de isentão, você é promovido imediatamente ao suprassumo do cocô do cavalo do bandido. Agora você é um merda total! Era melhor ser um mané do outro lado do que ser um isentão.
A ideia de que existem posições intermediárias, de que nem sempre se consegue definir entre um lado ou outro, de que às vezes é preciso avaliar cada questão de acordo com um raciocínio independente, não prospera mais nos dias de hoje. O meio-termo se ferrou!
Se você acha que as questões não têm respostas simples, que é preciso discutir, avaliar, pensar e não seguir cartilhas, você está irremediavelmente inscrito no sindicato dos isentões e, portanto, completamente alijado de qualquer discussão.
Mas não desista! Você tem que ser resiliente. Você pode ser um Isentista Utópico! Acreditar que um dia ainda será possível discutir cada questão à luz de argumentos razoáveis, sem precisar ser isso ou aquilo, zero ou um, sim ou não! O bom senso triunfará, e não vai ser através do uso da força, das armas ou de medidas radicais. Ele triunfará através do…
— Cala a boca, isentão!