Em um panorama cinematográfico muitas vezes dominado por efeitos visuais grandiosos e roteiros rasos, “A Cartada Final” ressurge como um sopro de elegância, centrando-se em personagens e atuações capazes de hipnotizar o público. Sob a condução de Frank Oz, o longa reúne três gerações de ícones do cinema: Robert De Niro, Marlon Brando e Edward Norton. Juntos, eles revitalizam o clássico gênero de assalto ao contar a história de Nick Wells (De Niro), um experiente ladrão de cofres que, cansado do submundo criminal, deseja trocar tudo por uma vida tranquila administrando seu clube de jazz em Montreal. Esse anseio, porém, é abalado pela proposta tentadora de Max (Brando), um intermediário internacional que o convence a roubar um cetro francês do século 17, guardado em um dos cofres mais seguros da cidade. Para executar o plano, Max recruta Jack (Norton), um jovem ladrão audacioso que se infiltra na alfândega local fingindo ser Brian, um funcionário supostamente acometido de limitações cognitivas.
Nesse contexto, as interpretações principais transformam-se em verdadeiros espetáculos. De Niro imprime a Nick um ar melancólico, fruto de anos no crime, enquanto Norton revela uma versatilidade extraordinária, alternando entre manipulação sutil e carisma explosivo. Marlon Brando, em sua despedida das telas, encarna Max com toques de imprevisibilidade e um humor discreto, marcas inconfundíveis de sua trajetória lendária.
A dinâmica entre os três é recheada de improvisos, que não apenas enriquecem a narrativa, como também criam instantes de tensão e leveza — exemplificados pela crescente cumplicidade entre Nick e Jack, inicialmente marcados pela desconfiança. Em contraste, Diane, a companheira de Nick interpretada por Angela Bassett, recebe um espaço restrito no enredo, pouco contribuindo para o aprofundamento do protagonista. Ainda assim, personagens como Burt, o fiel ajudante de Nick, e Stephen, um hacker excêntrico que vive no porão de sua mãe, oferecem pequenos lampejos de humor e ampliam a atmosfera envolvente que permeia o filme.
O ponto mais impactante de “A Cartada Final” é a minuciosa orquestração do assalto. Cada fase do golpe é cuidadosamente desvendada, desde incursões pelos túneis subterrâneos até confrontos com um sistema de segurança de ponta, envolvendo detectores infravermelhos e câmeras estrategicamente instaladas. Embora o enredo siga a cartilha do gênero, há um refinamento que mantém o espectador em permanente estado de alerta. À medida que imprevistos surgem, a tensão cresce de forma orgânica, culminando em um clímax que rejeita explosões desnecessárias e perseguições exageradas. Assim, o foco permanece firmemente nos personagens e em suas escolhas, o que torna o desfecho ainda mais recompensador.
Frank Oz, conhecido por dirigir comédias, surpreende ao entregar um suspense equilibrado por instantes de humor bem dosado. Os diálogos, carregados de ironia sutil, proporcionam frescor à narrativa sem diluir sua densidade. Em cenas pontuais — como o encontro de Nick e Burt em um parque, onde a estranheza inicial dá lugar à exibição de força e astúcia — fica evidente o cuidado com a construção de cada personagem. A trilha sonora complementa esse clima, reforçando a paixão de Nick pelo jazz e conferindo um ar sofisticado à ambientação.
Longe de reinventar o gênero, “A Cartada Final” o celebra com precisão cirúrgica e valoriza uma condução que privilegia atuações de peso, diálogos espertos e reviravoltas planejadas. Ao dispensar fórmulas prontas e fogos de artifício dispensáveis, o filme conquista justamente por sua engenhosidade e pela riqueza de cada detalhe, convidando o público a mergulhar em uma história sólida, elegante e intelectualmente envolvente. É uma prova de que o brilho do cinema pode muito bem repousar na simplicidade orquestrada com talento, entregando uma experiência capaz de fascinar da primeira à última cena.
★★★★★★★★★★
