Condenada em 2019 por uma série de crimes, incluindo fraude, estelionato e furto, Anna Delvey se tornou um fenômeno mundial, atraindo atenção e fascínio em igual medida. Sua habilidade em enganar a elite restrita e vigilante de Nova York a alçou ao status de uma espécie de anti-heroína moderna. Mas quem realmente era essa jovem que manipulava milionários e instituições financeiras com tamanha destreza? A resposta reside em uma trama tão surreal quanto fascinante, explorada pela série “Inventando Anna”, da Netflix, criada por Shonda Rhimes.
A narrativa nos conduz pela perspectiva de Vivian Kent (Anna Chlumsky), uma jornalista em busca de redenção profissional. Marcada por um erro em uma matéria que abalou sua reputação, Vivian foi relegada a um canto menos prestigiado da redação, com pautas de menor relevância. Frustrada com sua situação e hesitante em explorar temas que pudessem expor ainda mais sua fragilidade, ela decide mergulhar em uma investigação arriscada: desvendar a história de Anna Delvey.
Anna, interpretada com maestria por Julia Garner, é apresentada como uma enigma ambulante. Jovem, articulada e incrivelmente persuasiva, ela convenceu banqueiros, socialites e empresários de que era uma herdeira alemã multimilionária, utilizando esse disfarce para viver uma vida de luxo e aplicar golpes milionários. No entanto, a verdade sobre Anna — cujo sobrenome verdadeiro é Sorokin — revela uma narrativa ainda mais complexa, onde surgem questionamentos sobre sua origem, motivações e o alcance de suas manipulações.
A relação entre Vivian e Anna é central para a série. Intrigada pela astúcia e pela resiliência de Anna, a jornalista enxerga nessa história uma oportunidade de recuperar sua credibilidade. Mesmo assim, a dinâmica entre as duas é marcada por tensão e desconfiança. Anna, mesmo atrás das grades, continua a exercer um controle impressionante sobre aqueles ao seu redor. Suas entrevistas com Vivian são jogos psicológicos complexos, nos quais a verdade é manipulada de forma habilidosa, deixando tanto a jornalista quanto o público em constante estado de alerta.
O enredo se desenrola com um ritmo instigante, intercalando cenas de entrevistas, flashbacks que revelam os golpes de Anna e os esforços de Vivian para reconstruir os fatos. A direção de arte é um dos pontos altos, com cenários luxuosos, figurinos impecáveis e detalhes visuais que capturam o glamour superficial que Anna tanto almejava. O contraste entre a opulência e a prisão reflete a dicotomia entre a imagem que Anna projetava e a realidade nua e crua de suas escolhas.
“Inventando Anna” também aborda temas mais profundos, como a superficialidade das redes sociais, o poder das aparências e o vazio existencial que muitas vezes acompanha o desejo desenfreado por status e validação. A narrativa revela como Anna construiu sua identidade com base nesses conceitos, transformando-se em um espelho distorcido da sociedade contemporânea, onde a ilusão frequentemente supera a verdade.
Combinando drama, suspense e toques sutis de humor, a série é um retrato envolvente de uma era obcecada por aparências e narrativas espetaculares. Anna Delvey emerge como uma figura paradoxal — ao mesmo tempo vilã e vítima, admirada e desprezada. “Inventando Anna” não apenas reconta sua história, mas também desafia o espectador a refletir sobre os limites entre ambição e ética, entre realidade e ficção, em um mundo onde as aparências frequentemente são tudo.
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