O filme que Kevin Costner levou 30 anos para fazer e que ainda custou todos os seus bens, na Max Divulgação / New Line Cinema

O filme que Kevin Costner levou 30 anos para fazer e que ainda custou todos os seus bens, na Max

O faroeste é um dos gêneros mais tradicionais e icônicos do cinema, celebrando histórias que combinam aventura, conflitos morais e a mítica paisagem do Oeste americano. Como afirmou recentemente Fernanda Torres em entrevista no programa “Jimmy Kimmel Live”, os americanos são mestres em vender sua própria cultura, e os faroestes exemplificam essa habilidade. Apesar de retratar uma realidade profundamente ligada à história dos Estados Unidos, o gênero conquistou fãs em todo o mundo, tornando-se um fenômeno cultural universal.

Kevin Costner, ator e cineasta amplamente associado ao faroeste, tanto pela sua filmografia quanto pelo apreço pelo gênero, decidiu apostar alto em um projeto ambicioso que chama de “a obra de sua vida”. Intitulada “Horizon”, a saga cinematográfica é dividida em duas partes. A primeira estreou recentemente no streaming, enquanto a segunda tem circulado por festivais internacionais, recebendo aclamação crítica. 

“Horizon — Parte 1” se passa em um cenário desolado do Oeste americano, onde a cidade de Horizon começa a se formar em meio a disputas territoriais e aos resquícios da Guerra Civil Americana. O roteiro explora famílias em processo de formação ou desintegração, enquanto aborda as tensões entre colonos e povos indígenas, que habitavam aquelas terras muito antes da chegada dos europeus. Contudo, como é típico do gênero, a narrativa principal adota o ponto de vista dos colonos brancos.

No centro da trama está Frances Kittreadge (Sienna Miller), que, junto com sua filha Lizzy (Georgia MacPhaill), tenta sobreviver após perder o marido e o filho em um ataque indígena devastador. O ataque destruiu um acampamento inteiro próximo ao rio que margeia Horizon, deixando um rastro de morte e desespero. É nesse contexto que surge Trent Gephart (Sam Worthington), um oficial do exército americano que atua como mediador entre colonos e nativos, enfrentando dilemas éticos enquanto tenta proteger a população de Horizon. Entre Frances e Trent, desenvolve-se um possível romance, enquanto ela luta para superar o luto e reconstruir sua vida.

Paralelamente, outras histórias se desenrolam. Hayes Ellison (Kevin Costner), um cowboy solitário e idealista, decide proteger Marigold (Abbey Lee), uma prostituta que se torna a cuidadora do pequeno Sam, filho de Ellen (Jean Malone), uma mulher que a acolhe. Após presenciar um assassinato, Marigold é perseguida por criminosos, mas encontra em Hayes um aliado disposto a defendê-la enquanto buscam um refúgio seguro.

Ellen, por sua vez, também enfrenta perigos com seu marido, perseguidos pelos mesmos homens que procuram Marigold. Já Will Tanner (David Arquette), um caçador de peles, auxilia pioneiros em busca de terras seguras, ampliando a complexidade narrativa do filme. Essas e outras subtramas enriquecem a história, mas também tornam a primeira parte da saga um tanto confusa, já que muitas peças do quebra-cabeça parecem destinadas a se encaixar apenas na segunda parte.

A narrativa lenta e a estrutura incompleta dificultam uma avaliação definitiva desta primeira parte, que se apresenta como um prelúdio de algo maior. Para Kevin Costner, entretanto, “Horizon” representa o ápice de sua carreira. Concebido em 1988, o projeto enfrentou inúmeros obstáculos para sair do papel. Incapaz de garantir o apoio de estúdios ou investidores, Costner decidiu financiar o filme com seus próprios recursos, hipotecando seu patrimônio e investindo 50 milhões de dólares de seu fundo pessoal.

Apesar do esforço monumental, a arrecadação global de “Horizon – Parte 1” ficou em 35 milhões de dólares, insuficiente para cobrir os custos. Ainda assim, a recepção positiva da segunda parte, que tem sido mais bem avaliada pela crítica, pode trazer esperança para o retorno do investimento e o sucesso do projeto. 

“Horizon — Parte 1”  é mais do que um filme; é o reflexo da paixão de Kevin Costner pelo faroeste e sua determinação em contar uma história que ecoa os dilemas, as lutas e os sonhos de um período crucial da história americana. O público, no entanto, terá que aguardar a conclusão da saga para compreender plenamente sua grandiosidade e avaliar o impacto desta ousada empreitada cinematográfica. 

Filme: Horizon: Parte 1
Diretor: Kevin Costner
Ano: 2024
Gênero: Drama/Faroeste
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.