Poucos cineastas alcançam a maestria ao tratar dos conflitos humanos diante de forças incontroláveis como Christopher Nolan. Em “Tenet”, o diretor combina uma narrativa visual refinada com a urgência temática que permeia seus projetos anteriores, como “A Origem” e “Dunkirk”. O filme herda a obsessão por apocalipses únicos e uma narrativa que harmoniza rigor cartesiano com o caos subjacente das imagens. A confusão inicial é intencional, criando uma atmosfera de tensão que mergulha o público em um concerto de ações que rapidamente se tornam caóticas. O Protagonista, interpretado por John David Washington, é um enigma que vaga entre zonas de moralidade ambíguas, flutuando no limiar entre herói e vilão. Acompanhamos sua jornada turbulenta, sendo perseguido por terroristas ucranianos, até que sua missão — salvar o mundo de um plano insano concebido por um vilão meticuloso — ganha clareza à medida que a trama avança.
O roteiro de Nolan investe em cenas que ressaltam a vulnerabilidade do Protagonista, continuamente exposto a situações extremas. O confronto inicial com Stephen, um agente brutal interpretado por Andrew Howard, desencadeia uma trama densa e repleta de tensão, sustentada ao longo das mais de duas horas de duração. Mesmo nos momentos mais repetitivos, a narrativa mantém vigor e dinamismo. A determinação do herói começa a se consolidar ao lado de Barbara, uma cientista vivida por Clémence Poésy, cuja retórica intricada é marca registrada dos diálogos de Nolan. A interação entre os dois serve como ponto de transição, esclarecendo o papel central do Protagonista: evitar uma Terceira Guerra Mundial, cujo impacto, segundo a visão catastrofista do diretor, superaria o de qualquer desastre nuclear.
Após estabelecer suas bases, “Tenet” explora subtramas que, embora não essenciais, enriquecem o enredo, como o tenso relacionamento entre Andrei Sator, o mafioso russo de Kenneth Branagh, e Kat, interpretada com intensidade por Elizabeth Debicki. O clímax é marcado por um desfecho introspectivo, onde Neil, vivido por Robert Pattinson, oferece ao Protagonista uma nova perspectiva sobre sacrifício e destino. Nolan demonstra novamente sua habilidade em criar narrativas que equilibram tensão e emoção, colocando-se lado a lado com realizadores como Denis Villeneuve, que igualmente desafiam as convenções do cinema contemporâneo.
★★★★★★★★★★