Em “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, Yuval Noah Harari argumenta que a ascensão do Homo sapiens na escala evolutiva se deve à sua capacidade de compartilhar informações, desde dicas sobre caça até advertências sobre alimentos perigosos. Esse talento narrativo moldou sociedades, conectou gerações e permitiu a transmissão de histórias que ressoam através do tempo. Filmes de guerra, por sua vez, perpetuam esse legado, traduzindo eventos históricos em narrativas que iluminam a fragilidade e a complexidade humanas. “A Batalha Esquecida”, dirigido por Matthijs van Heijningen Jr., se destaca nesse cenário ao lançar luz sobre um episódio pouco conhecido da Segunda Guerra Mundial, oferecendo uma perspectiva rica e multifacetada.
O filme, lançado em 2020, situa-se no contexto da libertação da Antuérpia, evento crucial que selou o destino das forças nazistas na Holanda. Inspirando-se em produções como “Dunkirk” (2017), Van Heijningen Jr. resgata a Operação Market Garden, um esforço aliado para retomar o controle estratégico da foz do rio Escalda. Essa campanha, marcada por manobras ousadas e grande resistência, revelou a resiliência de soldados canadenses que enfrentaram obstáculos inesperados para libertar territórios ocupados.
Combinando realidade e ficção, o filme equilibra rigor histórico com nuances dramáticas. O roteiro de Paula van der Oest se destaca por sua abordagem sensível e inovadora, incorporando uma rara perspectiva feminina. Diferente de obras dominadas por narrativas masculinas, como “O Banqueiro da Resistência” e “Riphagen”, “A Batalha Esquecida” humaniza a guerra por meio de histórias íntimas, como a de um jovem holandês que, com a ajuda do pai, desafia as imposições nazistas. Jan Bijvoet oferece uma atuação comovente como Visser, um médico que arrisca tudo para proteger seu filho, revelando os dilemas éticos e emocionais que permeiam tempos de conflito.
A escolha de filmar na Lituânia, onde cenários evocam a Europa devastada dos anos 1940, amplifica a autenticidade visual da obra. A direção de arte e a fotografia conferem ao filme uma qualidade quase documental, enquanto os personagens, anônimos na vastidão histórica, ganham vida em performances que os tornam inescapavelmente reais.
Como um todo, “A Batalha Esquecida” transcende o gênero. Não se limita a ilustrar batalhas, mas explora as rachaduras da alma humana em meio à violência e ao caos. É uma ode à resiliência de quem, mesmo diante do abismo, encontra força para resistir. Uma narrativa que não apenas documenta a história, mas a recria com profundidade emocional, permitindo que novas gerações compreendam o peso e o impacto da guerra.
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