Filmes de ação podem muito bem transcender sua natureza de cenas em que ossos se partem e o sangue escorre, e transmitir mensagens mais elaboradas. Dependendo de como o componente político entre nessas histórias, pode-se inferir que os temas ditos graves e urgentes tornam-se menos herméticos, quiçá até despertem imprevisíveis paixões, não obstante a ilusão de se imaginar que a qualquer um é dada a competência de solucionar crimes e interromper abusos seja muito perigosa. Feita esta ponderação, “Esquema de Risco: Operação Fortune” é uma sátira engenhosa sobre essa gente estranha que ganha a vida em operações ardilosas, que não raro acabam em tragédia.
Aqui, Guy Ritchie não leva seu filme as últimas consequências, o que não significa que o enredo careça de ganchos para subtramas envolventes. O roteiro do diretor, coassinado por Ivan Atkinson e Marn Davies, não está exatamente preocupado com linearidade, bem como não passam em branco falas que estalam como se saídas de uma metralhadora, sem prejuízo da graça. Ritchie contrabalança o ritmo frenético da narrativa central com flashbacks esporádicos, nos quais o espectador penetra melhor nos meandros do que é contado, de tal forma que é até possível vislumbrar rumos distintos para o que se assiste ao cabo de 114 minutos. Entretanto, há um limite bastante claro para as concessões. Felizmente.
Os salvadores da humanidade, aptos a arriscar o pescoço inúmeras vezes ao longo de um mesmo filme em nome do que se considera a missão mais nobre que alguém poderia ter, vêm caindo em descrédito, mas decerto ainda tarda para que sumam de uma vez das telas de todas as mídias e, assim, não deixam de ampliar seu arco de popularidade. Em “Esquema de Risco”, quem desempenha esse papel é Orson Fortune, um homem talhado para o perigo, mas amante de vinhos caros, ternos de grife e de quando acometido de ataques de pânico e crises de acrofobia e nomofobia.
Numa subida constante desde “Carga Explosiva” (2002), de Louis Leterrier e Corey Yuen, Jason Statham corrobora sua aura de estrela dos besteiróis que fundem desavenças nas altas rodas do submundo, perseguições automobilísticas e fetiches sexuais — como só mesmo o capitalismo à americana é capaz de conceber —, e parece um tanto mais refinado, lidando agora com altos burocratas do governo britânico que precisam dele para arrematar intrincadas questões de segurança nacional.
O encontro com Nathan, o representante da diplomacia do Reino Unido interpretado com elegância admirável por Cary Elwes, abre passagem para os tipos encarnados por Josh Hartnett, Aubrey Plaza e Hugh Grant. Ótimo como George Simonds, um bilionário suspeito, sempre escondido por trás de várias camadas de maquiagem e óculos escuros que fazem-no se parecer com o líder de alguma seita extremista, Grant rouba a cena, alcançando o ponto mais alto do longa muitas vezes. Pelo conjunto da obra (e por ele, além de uma maleta cujo conteúdo torce a lógica dessas produções), pode-se dizer que Ritchie arriscou e foi feliz.
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