Uma discussão sobre “Duna” (1984), o clássico de David Lynch (1946-2025) baseado nas histórias de ficção científica da série de Frank Herbert (1920-1986), publicada entre 1965 e 1985, e o malfadado “Waterworld — O Segredo das Águas” (1995), de Kevin Reynolds, um dos maiores fracassos de Hollywood, é de longe a melhor coisa em “Terror no Estúdio 666”, uma tentativa constrangedora de revitalizar a carreira de músicos que já tiveram alguma relevância para o cenário roqueiro. Encabeçado por Dave Grohl, o filme de BJ McDonnell tem de tudo um pouco: disputas masculinas por liderança, artistas veteranos ardendo no inferno do bloqueio criativo, empresários cafonas e exploradores ávidos por um novo hit, e, claro, sangue, muito sangue — e esse, definitivamente, não é o xis do problema.
O artificialismo, a sanha por faturar algum, o desgoverno narrativo, isso, sim, é motivo para evitar-se essa lamentável egotrip de Dave Grohl, que ganha os créditos de autor da história em que se baseiam os roteiristas Jeff Buhler e Rebecca Hughes, malgrado o ex-baterista do Nirvana jamais tenha publicado nada. Junto com Taylor Hawkins, Rami Jaffee, Nate Mendel, Chris Shiflett e Pat Smear, seus companheiros de Foo Fighters, Grohl encara 106 minutos de opróbrio coletivo, capazes de fazer Kurt Cobain (1967-1994) revirar-se na sepultura, se as cinzas do ídolo do grunge dos anos 1990 não tivessem tido espalhadas no rio Wishkah, no estado de Washington.
Existe uma contradição fundamental entre quem diz perseguir um estilo ou estar à procura de um. A maneira verdadeiramente única de se expressar — e aqui nos referimos à expressão artística, que se tenha claro — não necessita nada além da vontade, às vezes nem isso. No caso do cinema, que é o que nos interessa, há filmes que parecem nunca terem sido feitos: eles pairavam no ar, prontinhos, à espera de alguém que os submetesse à exibição pública e massiva. Resta evidente que são a minoria, mas também é nítido que são justo essas tramas as que transformam a sociedade que, de um modo ou de outro, acabou por fomentá-las.
Não há, contudo, nada de mais em “Terror no Estúdio 666”, e nem coisa alguma que já não tenha sido feita com muito mais brilhantismo antes. Para gravar seu décimo álbum, Grohl e os outros recorrem a uma mansão em Encino, um distrito de Los Angeles. Claro que ele não haveria de admitir, mas o que acontece é exatamente o que o músico — alvo da ironia fina de Mendel, que, com deboche palpável o chama de gênio, e insinua que ele nunca fez nem faria nada por ninguém, nem assar um filé para comer se estivesse morrendo de fome — esperava, mas essa inconfidência de Grohl morre na praia. Não por acaso, John Carpenter, o diretor de “Eles Vivem” (1988), faz um ponta como engenheiro de som, além de coassinar o tema que acompanha os créditos na abertura. A infrutífera bagunça conceitual de “Terror no Estúdio 666” só dá ao público uma certeza: Cobain faz falta. E agora Lynch também fará.
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